Brasília em Dia
-
11 de Dezembro de 2010
Absolvição ou condenação?
No limiar de 2011, abre-se uma discussão mundial sobre os possíveis riscos à segurança causados pela liberdade de expressão, definida pela Unesco como o direito dos cidadãos à participação política internacional. Nascido em 1971, o australiano Julian Assange é o fundador da organização internacional denominada WikiLeaks, que divulga na internet, desde 2006, informações de documentos oficiais vazados de grandes empresas e governos. A sua política editorial prioriza a divulgação de documentos de interesse ético, político, diplomático e histórico. A organização usa as técnicas do jornalismo investigativo aliadas às modernas tecnologias de comunicação. Acusado de terrorista e criminoso, inclusive pela secretária de Estado americana, Hillary Clinton, Assange dá o “recado” de que “o que fizemos até agora é uma milésima parte da nossa missão”.
O mistério do WikiLeaks começou em 2006, com a proposta de transformar-se em órgão de informação à prova de censura para “gerar vazamentos maciços de documentos reservados, sem trair sua origem”. Em 2007, o site já armazenava quase 1,5 milhão de documentos, entre eles de dissidentes chineses e colaboradores europeus e de países como EUA, Austrália, Taiwan e África do Sul. Em 2008, o WikiLeaks ganhou prêmio da Anistia Internacional e da revista “The Economist” pela denúncia de execuções sumárias no Quênia.
Julian Assange está sendo processado na Suécia pela acusação de ter cometido abuso sexual contra duas mulheres. Por tal razão, ele vivia em fuga permanente para os locais onde as leis são mais tolerantes com a liberdade de expressão. Na última terça, porém, ele se entregou à Interpol, que tinha mandado de prisão contra ele. Agora, Assange cogita pedir asilo à Suíça, historicamente um país neutro. Desde abril, ele passou a ser acusado de crimes de terrorismo e qualificado como o Osama Bin Laden da internet, por divulgar vídeo sobre um massacre de civis iraquianos por parte de soldados norte-americanos. Em julho, o WikiLeaks colocou na internet 76.900 documentos secretos sobre a guerra no Afeganistão e 400 mil comunicações confidenciais sobre o conflito no Iraque. Nos últimos dias, espalharam-se no mundo três centenas de despachos dirigidos ao Departamento de Estado pelas embaixadas dos EUA. A reação norte-americana foi imediata e provocou a retirada de vários colaboradores do site, que permanece sem ter uma sede fixa. O WikiLeaks denuncia os prejuízos que vem sofrendo. Em represália, manifesta o propósito de divulgar mais de 15 mil documentos militares confidenciais sobre o Afeganistão. Tais documentos vazam relatos de diplomatas americanos sobre corrupção contra governos estrangeiros e líderes.
A nitroglicerina atingiu os governos brasileiro e francês. O “Le Monde” publicou telegrama confidencial no qual anuncia a intenção dos presidentes Lula e Sarkozy de promover ampla remodelação da ordem global. A revelação envolve a parceria estratégica entre França e Brasil e os bastidores das negociações para a compra dos caças Rafale. Caso o negócio se concretize, a empresa francesa Dassault será obrigada a pedir aos EUA licenças de controle de exportação de certos componentes dos aviões, construídos com tecnologia americana patenteada. Alguns documentos deixam claro que Sarkozy usa o status de celebridade da esposa e cria junto às autoridades brasileiras o mito de que a França seria o parceiro perfeito para os países que não querem depender da tecnologia americana.
Até a Anistia Internacional, que em 2008 premiou o australiano, fez duras críticas pela divulgação dos nomes de informantes afegãos à CIA, agora expostos à vingança dos talibãs. Nem o Pentágono, com todo o seu poder, consegue ocultar o WikiLeaks. A Casa Branca revê todos os seus sistemas de comunicação para impedir a fuga de notícias reservadas. Mesmo assim, o sistema como um todo será sempre vulnerável.
O jornalista Mário Rosa, no seu conceituado livro “A reputação na velocidade do pensamento”, comenta que, em 1999, Bill Gates anunciava que “na próxima década, os negócios irão mudar mais do que mudaram nos últimos 50 anos”. Os fatos confirmam a previsão, não apenas em relação aos negócios, mas também a todos os ramos do conhecimento humano. A mídia mundial passa a ter no WikiLeaks um sério concorrente, com o poder de ameaçá-la de controle, o que parecia impossível de acontecer. “O passado não existe mais ou tende cada vez mais a ficar para trás” (Mário Rosa).
Neste sentido, 2011 se prenuncia como o ano da discussão internacional sobre o significado moderno da “liberdade de expressão”. No banco dos réus está o site WikiLeaks. Será absolvido ou condenado no futuro? Enquanto isso, paira no ar a pergunta que questiona se a liberdade de expressão deve ter limites ou não.
Coluna semanal
Revista Brasilia em Dia
www.brasiliaemdia.com.br
Notice: Undefined variable: categoria in /home/neylopescom/public_html/noticia.php on line 42
Notice: Trying to get property of non-object in /home/neylopescom/public_html/noticia.php on line 42
Notice: Undefined index: pagina in /home/neylopescom/public_html/noticia.php on line 42
Notice: Undefined variable: totalPaginas in /home/neylopescom/public_html/noticia.php on line 42
Notice: Undefined offset: 1 in /home/neylopescom/public_html/restrito/incs/funcoes.php on line 618