Marca Maxmeio

Brasília em Dia

  • 09 de Outubro de 2010

    O sonho de Óscar Arias

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    Em setembro último, o ex-presidente da Costa Rica, Nobel da Paz em 1987, Óscar Arias Sánchez, proferiu palestra no “Simpósio da Liberdade Hemisférica”, realizado em Baton Rouge, Louisiana (EUA). As reflexões de Arias são da maior atualidade e revelam as opiniões de um dos maiores estadistas contemporâneos. Vale a pena reproduzir alguns trechos da Conferência.

    “Gostaria de começar por olhar o passado, refletindo sobre a América Latina de duzentos anos atrás, quando a liberdade significou algo muito diferente do que hoje. Os nossos povos hoje têm sede de um tipo diferente de liberdade: liberdade de querer, a liberdade de comer, a liberdade de superar a desigualdade e a ignorância. Todos procuram a liberdade de escolher o seu próprio caminho na vida; liberdade para obter um trabalho de qualidade; liberdade de acesso a tecnologias modernas, que permitam os benefícios da informação e da cultura. As populações das Américas lutam contra a pobreza e a desigualdade de milhares de pessoas. Liberdade na América Latina moderna é menos geopolítica e mais desenvolvimento humano”.

    “Quando perguntada a causa da América Latina subdesenvolvida, muitos líderes da região irão responder com as teorias da conspiração e desculpas cheias de autopiedade. Eles vão dizer que fomos o entulho de um império espanhol, que levou as nossas riquezas, e de um império americano, que continua a nos sangrar. Eles vão dizer que as instituições financeiras internacionais conspiraram contra nós e que as leis da globalização foram deliberadamente projetadas para manter nossa região nas sombras. Em suma, eles vão dizer que a culpa por nosso subdesenvolvimento é culpa dos outros. Nossa região ainda é uma vitrine de slogans nacionalistas e diatribes anti-imperialistas. Ela é continuamente invadida por generais e comandantes, que declaram guerra contra os fantasmas de suas próprias mentes e imaginárias ameaças estrangeiras. Vitimização continua a ser o sentimento mais vendido no nosso catálogo, e nossos governos ainda são especialistas em inventar pretextos e justificações, em vez de mostrar resultados. O preço que pagamos por nossa relutância de olhar no espelho é de uma população cada vez mais desiludida com a política. Uma população cansada de palavras vazias”.

    “Ninguém é responsável pelo fato de que, quase dois séculos após a nossa separação da Espanha ou de Portugal, não existe uma nação desenvolvida sequer na América Latina. A existência de pressões externas é o traço comum de qualquer país do mundo. Seria desonesto dizer que as nações desenvolvidas nunca foram vítimas de pressões hegemônicas. Seria desonesto afirmar que apenas a América Latina tem enfrentado batalhas difíceis na história. Quando analisamos as estatísticas econômicas e realizações culturais da América Latina, vemos que começamos esta corrida em condições iguais ou até melhores do que o resto do mundo. Segundo os cálculos da Angus Maddison, a renda per capita na América Latina em 1750 era semelhante àquela dos Estados Unidos. Até o ano 2000, ela caiu para apenas um quinto dos norte-americanos. Países mais jovens, como Cingapura, deixaram os latino-americanos na poeira, não pela sorte, mas em razão de políticas e investimentos eficientes e racionais. Um exemplo é a nossa incapacidade de investir em estradas, ferrovias e portos. Em consequência, a nossa produtividade está muito aquém da encontrada no Leste da Ásia e em países de alta renda. E ainda culpamos os outros pelo nosso atraso. Nós somos responsáveis pelo nosso destino”.

    “Atualmente, na América Latina, há líderes que usam as estruturas democráticas para subverter o próprio fundamento da democracia. Interpretam o mandato popular como carta branca (...), perseguem adversários, aprisionam a mídia e buscam reformas que assegurem a permanência no poder para sempre. Brasil e Chile se tornaram modelos a ser seguidos. Países como a Costa Rica começaram com sucesso a transição para uma economia baseada no conhecimento. A revista ‘The Economist’ observou que, com as nossas taxas de crescimento atuais, poderemos dobrar a renda per capita em 2025. Por isso, creio no potencial da América Latina para superar os demônios do passado (...)”.

    “É o sonho de uma América Latina livre do medo da mudança. É o sonho de uma América Latina cujos cidadãos livres confiem em seus governos, nas suas democracias, no Estado de direito. É o sonho de uma América Latina livre dos efeitos de práticas militares, que continuam a esfregar sal nas feridas do nosso passado. É o sonho para buscar a felicidade que imaginaram os nossos fundadores. É o sonho de uma América Latina onde, em vez de viver no passado, possamos aprender com ele e transcendê-lo. Haveremos de avançar, finalmente, na busca da liberdade real”.

    Coluna semanal
    Revista Brasilia em Dia

    www.brasiliaemdia.com.br

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