Brasília em Dia
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17 de Julho de 2010
O “day after” da Copa de 2014
Ainda vivemos a ressaca da derrota na África do Sul. Duas indagações pairam no ar: foi justa a recepção dada à seleção na sua volta? A copa de 2014 no Brasil será a “varinha mágica” para o país crescer e desenvolver-se?
Comparei as reações na Argentina e no Uruguai e a forma de recepção da seleção no Brasil, sob vaias e apupos, com a exceção dos gaúchos, conterrâneos de Dunga. Foram esquecidos os méritos de Julio Cesar, Lucio, Kaká, Robinho e tantos outros. Não se trata de encobrir a decepção do torcedor. Porém, humanamente será justo omitir as alegrias que todos eles já proporcionaram ao Brasil? O próprio “vilão” Luis Fabiano, minutos antes do lance infeliz do gol contra, dera o passe mágico para Robinho abrir o placar. Nada disto vale?
Será que não houve nenhum esforço em 2010? Ou, se repetiu a tradição de serem apontados “vilões” nas horas de derrotas, cujos exemplos foram Toninho Cerezo, crucificado na Copa de 1982, pelo passe errado que deu no lance que originou o segundo gol da Itália; Zico em 1986 ao perder um pênalti contra a França, que daria a classificação ao Brasil; Ronaldo o “fenômeno” em 1998 pelo fraco desempenho na derrota contra a França (3 x 0), recuperado quatro anos depois como artilheiro do penta na Coréia do Sul e Japão; ou Roberto Carlos em 2006 ao ajeitar a meia no instante do gol francês de Thierry Henry, que nos valeu a eliminação.
A seleção brasileira não morreu. Napoleão Bonaparte afirmava, que para ganhar uma guerra são necessários bons soldados, armas e muita sorte. No futebol, bons jogadores, bom técnico e a sorte que faltou ao Brasil este ano. Por isto, o revés foi apenas uma etapa. Se o Brasil não aplaude Dunga e seus comandados, também não deve sacrificá-los. Eles fizeram muito pelo nosso futebol. Sempre admirei Dunga como capitão da seleção, que em 1994 levantou a taça de campeão da Copa do Mundo, nos Estados Unidos. Em 1990, ele fora qualificado como “jogador sem talento”. Quatro anos mais tarde era destaque na conquista do tetra campeonato. Como técnico, questionei o estilo Dunga, mas reconheço que sob o seu comando e quase todos os jogadores atuais, o Brasil se classificou para ir à África, além de ter conquistado a Copa América em 2007 e a Copa das Confederações, em 2009. Mesmo triste e surpreendido pela derrota, ela merece voto de confiança por ter continuado o sonho do nosso futebol, cujo futuro é promissor.
E a realização da Copa no Brasil em 2014?
Em princípio, nada tenho contra. Porém, é necessário acompanhar com cuidado as conseqüências do “day after”. A experiência mundial comprova que nem tudo são flores.
Simon Kuper, colunista do Financial Times, escreveu que no dia da escolha da África do Sul para sediar a Copa do Mundo, em 2004, o bairro negro do Soweto, em Johanesburgo, gritou: "a grana está vindo!". O mesmo articulista informa: “esse argumento econômico é uma enganação. Os brasileiros vão descobrir logo. E os sul-africanos já o fizeram: a conta pela construção de estádios, em US$ 1,7 bilhão, já é seis vezes maior que as estimativas iniciais; a quantidade de turistas esperados é bem menor que a prometida e a Fifa não vai deixar os sul-africanos pobres vender suas salsichas do lado de fora dos estádios. Que fique claro: uma copa não deixa o país mais rico”.
Dados recentes confirmam o estouro no orçamento inicial dos africanos do sul. A estimativa era de R$ 2.1 bilhões. Sabe-se que a despesa pública federal ficou em torno de R$ 9 bilhões, afora milhões de reais de investimentos dos estados e municípios não computados. Depois do mundial, a África do Sul continuará a pagar a conta. Terá ainda de administrar mobilizações sociais, como greves de trabalhadores por atrasos de salários, ocorridas nos últimos meses, sem que fossem comuns antes.Em excelente entrevista concedida a BRASILIA EM DIA, o professor e Doutor em gestão de esporte, Aldo Azevedo, analisou pontos fundamentais acerca do “day after” do país sede de evento esportivo com a dimensão da Copa de 2014. O entrevistado lembrou que “os recursos utilizados para a realização dos Jogos Pan-Americanos no Rio de Janeiro tiveram a previsão inicial de investimento triplicada, em razão da falta de condições e de estrutura esportiva do país”. Destacou, ainda, a realização em 2004 da Euro-Copa em Portugal, a maior causa do atual déficit financeiro e endividamento do país.
Ao que se sabe a previsão de gastos para 2014 já gira em torno de $ 25 bilhões, sem falar na melhoria de aeroportos e segurança pública. Tudo isto significará uma “varinha mágica” para o país crescer e desenvolver-se? Não faz mal avaliar e ponderar!
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