Brasília em Dia
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17 de Abril de 2010
Brasília cinquentenária
Neste 21 de abril, Brasília completa 50 anos, reconhecida pela UNESCO como patrimônio cultural da humanidade. A sua exuberância e arrojo arquitetônico assemelham-se a cidades como Camberra, Washington DC e Ottawa, que nasceram a partir de idênticos desafios para serem as capitais da Austrália, Estados Unidos e Canadá.
Brasília preserva o arrojo e a tenacidade dos seus construtores, na caminhada heroica de conquista das terras inóspitas do Planalto Central, ressequidas pelo sol. A inovação e a ousadia do Presidente JK não se resumiram a mudança da capital para o Centro Oeste, mas no próprio projeto urbano e arquitetônico de Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, que transferia a sede administrativa de uma aprazível cidade do litoral – o Rio de Janeiro –, com o objetivo de interiorizar o desenvolvimento nacional e viabilizar a integração com os demais estados.
A coragem de JK ao enfrentar “a vastidão desconcertante do vazio”, como ele próprio denominava, guarda semelhanças com o Tzar Pedro I, quando no início do século XVIII imaginou a cidade de São Petersburgo como a nova capital da Rússia, a ser construída às margens do rio Nieva. O planalto central brasileiro sempre foi o sonho dos colonizadores, bandeirantes e republicanos para a edificação de um marco definitivo na integração dos nossos “brasis”. A terra desconhecida e desabitada se colocava como o grande empecilho. Na Rússia, os obstáculos eram os terrenos de pântanos do golfo da Finlândia, cobertos pela neve grande parte do ano. Como Brasília, São Petersburgo nasceu da vontade firme dos seus idealizadores e foi a capital da Rússia durante mais de duzentos anos, tendo consolidado o império nas terras do norte.
A ideia de Brasília – inclusive com a sugestão deste nome – vem de longe. O “Patriarca” José Bonifácio de Andrade e Silva defendia a mudança da capital como exigência da soberania nacional. Não foi sem razão a construção em Brasília de uma das igrejas católicas mais belas do país, denominada Dom Bosco. A cidade homenageou o santo, em razão do sonho profético que teve (1883), ao se referir a uma nova civilização no planalto central do Brasil, “perto de um lago”. O Visconde Porto Seguro, em 1877, também defendeu em livro a interiorização da capital do país.
A Constituição de 1891 reservou à União área próxima de 15.000 km2 para a edificação da futura capital federal. Todas as demais constituições incluíram esta mudança como legítima aspiração nacional. O presidente Getúlio Vargas lançou o movimento nacional “marcha para o oeste”. O presidente Eurico Dutra ultimou medidas para a demarcação da área da nova capital.
A ideia de uma nova capital prosperou historicamente no Brasil, inclusive entre os estados federados. Vejam-se os precedentes de Teresina, que substituiu Oeiras; Belo Horizonte que cresceu mais do que Ouro Preto e Goiânia que superou Goiás Velho.
Ao decidir-se pela construção de Brasília, JK pediu autorização ao Congresso Nacional, logo concedida (setembro de 1956). A oposição aprovou o pedido, por considerar a ideia o “cemitério político do Presidente”. Tal fato levou JK a declarar: “O Congresso aprovou o projeto para a construção de Brasília. Sabe por que foi aprovado? Eles pensam que não vou conseguir executá-lo”.
Brasília constituiu a partida da política desenvolvimentista de Juscelino Kubitschek, com o objetivo de transformar a economia nacional - até então predominantemente agrária - em uma economia moderna, a base da industrialização e urbanização, conduzindo ao desenvolvimento, dentro do princípio de recuperar cinquenta anos de atraso em cinco anos de governo. O Programa de Metas expandiu o parque industrial e inseriu a indústria automobilística brasileira no grupo das dez nações fabricantes de automóveis. Todo o plano teve a sua fundamentação teórica na Cepal (Comissão Econômica para a América Latina), organização fundada em 1948 como tentativa de planejar o desenvolvimento estável dos países da América Latina.
Uma das consequências mais positivas da construção de Brasília foi a abertura de grandes estradas, ligando o Brasil de norte a sul, de leste a oeste, facilitando a integração nacional pela ampliação do mercado interno. A estrada Belém-Brasília é o exemplo mais edificante. Ela nasceu em cima de uma ampla floresta virgem. As áreas férteis do cerrado transformaram-se em polo do agro business brasileiro, com a produção de soja, espécies agrícolas e pecuárias.
Brasília - a cidade cinquentenária - confirma que tudo aquilo que parece impossível, se torna realidade pela vontade e a determinação de fazer.
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