Brasília em Dia
-
20 de Fevereiro de 2010
Hipertensão na política
O aumento do colesterol – gordura no sangue – faz mal ao organismo. Na política, a gordura aumenta com o excesso de contradições do poder. Embalado por índices elevados de popularidade, o presidente Lula acumula grande quantidade de gordura, que lhe provocou recentes crises de hipertensão política, algumas não diagnosticadas. A última ocorreu dentro do avião presidencial, quando se preparava para decolar de Recife rumo ao centro do capitalismo internacional, Davos na Suíça.
A impressão que se tem é que o governo federal confia unicamente no carisma presidencial. Parte do princípio de que o Presidente pode tudo, inclusive explicar posições contraditórias, com o uso de metáforas e palavras, que soam bem aos ouvidos da população desinformada. Este quadro acumula a gordura política da popularidade e provoca hipertensão, uma vez ou outra.
Tomemos alguns exemplos.
O presidente confirmou, ao mesmo tempo, presenças no Fórum de Davos (Suíça) e no Fórum Social Mundial de Porto Alegre, que desde 2001 se reúne para combater o neoliberalismo e o domínio do mundo pelo capital por qualquer forma de imperialismo. Dois eventos inteiramente conflitantes. Um nega o outro. Mistura de azeite com água. A tentativa presidencial de conciliar as tendências ideológicas em debate causou-lhe hipertensão política, o que justificou a ausência. Seria o mesmo que promover um diálogo de Obama com Stédile (MST) sobre os benefícios do livre mercado.
Em Davos, representado pelo Ministro Celso Amorim, o presidente se credenciou junto aos banqueiros internacionais pela defesa da solidez do sistema financeiro, como condição para o desenvolvimento, o que lhe valeu um prêmio especial. Tomou conhecimento das pesadas críticas feitas ao Presidente Obama, qualificado de “moleque” por desejar taxar os bancos beneficiários do recente plano de ajuda do governo americano. Afinal, com quem o Brasil concordou em Davos? Com as críticas a Obama, ou a intervenção dele nos Bancos americanos para cobrar mais impostos? No Fórum Social Mundial de Porto Alegre, que discurso faria Lula? Apoio às apimentadas críticas dos banqueiros, ou salgados aplausos ao governante dos Estados Unidos? A mescla do sal com a pimenta provocaria inevitável hipertensão política.
Ao mesmo tempo, o governo desafiou o Tribunal de Contas da União, que suspendeu obras públicas federais, por supostas irregularidades. O TCU é o braço direito do Congresso Nacional. Tocar nele significa atingir o vespeiro congressual. Mais sal e pimenta na dieta do Planalto, provocando crises políticas hipertensivas, com certeza.
Outro foco de tensão recente, também propício à hipertensão política foi o episódio de Honduras, no qual a política externa brasileira protagonizou a tragicomédia de abrigar, durante vários meses, o ex-presidente Zelaya em nossa embaixada. O povo hondurenho deu prova de fortaleza democrática. Fez a transição pacífica, sem transigir. Afinal, Zelaya saiu do governo, por decisão unânime da Corte Suprema, a maioria do Congresso e dos partidos políticos, inclusive o dele, por desejar impor unilateralmente mudança em cláusula pétrea constitucional. Se isto for golpe – como insistem os chavões internacionais – desapareceria das Constituições o afastamento presidencial por “impeachment”. Collor, por exemplo, teria sido vítima de um golpe no Brasil, o que não aconteceu.
Neste quadro político hipertensivo caminha-se para a eleição de 2010, com a reforma política vergonhosamente engavetada. Os gastos de campanha continuarão a ser o foco das denuncias e escândalos futuros. Não há como deixar de ser assim. As campanhas custam caro, todo mundo sabe. Nos Estados Unidos as despesas eleitorais são feitas às claras. Reegan elegeu-se Presidente com financiamentos transparentes da indústria eletrônica e o compromisso de instalar um pólo industrial no Vale do Silício. Eleito, cumpriu a promessa e a América hoje concorre com os japoneses, além da oferta de milhares de empregos. Assisti duas convenções partidárias americanas. Uma semana de festas financiadas por empresas e pessoas físicas, com placas indicativas sobre a origem do dinheiro gasto. Tudo à luz do meio dia.
No Brasil, a regra é proibir e permitir tudo, ao mesmo tempo. O ilícito se origina na hipocrisia da lei, que regulamenta os gastos de campanha. As farisaicas exigências na contabilidade eleitoral “aparentam” uma lisura inexistente. . A justiça eleitoral cumpre o seu dever. Faz o que pode.
Mas, infelizmente, ela não pode fazer a lei. A causa está na omissão do Congresso Nacional.
Coluna semanal
Revista Brasilia em Dia
www.brasiliaemdia.com.br
Notice: Undefined variable: categoria in /home/neylopescom/public_html/noticia.php on line 42
Notice: Trying to get property of non-object in /home/neylopescom/public_html/noticia.php on line 42
Notice: Undefined index: pagina in /home/neylopescom/public_html/noticia.php on line 42
Notice: Undefined variable: totalPaginas in /home/neylopescom/public_html/noticia.php on line 42
Notice: Undefined offset: 1 in /home/neylopescom/public_html/restrito/incs/funcoes.php on line 618