Opinião
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24 de Janeiro de 2010
A imagem do político
Na largada do ano-eleitoral abordo tema, que considero fundamental para os rumos da cidadania democrática. Trata-se da exposição pública, sempre negativa, da imagem do político. Foram todos nivelados por baixo. Diz-se, com freqüência, que calçam quarenta.
É muito grave a desconfiança generalizada.
O que fará o eleitor, se não tiver em quem confiar? Votar em branco desserve a democracia. Afinal, é necessário proclamar, que nem tudo está perdido. Afirmo – sem medo de errar – que a maioria da classe política não merece esse tratamento. Os transgressores são minoria. Neste aspecto, o PT do passado (na época do “fora FHC”) contribuiu muito para o desgaste atual. Acusavam e julgavam. Lula chegou ao poder ajudado pelas manchetes sensacionalistas. Hoje se banqueteia com quem acusava.
Várias indagações poderão ser feitas.Será que a mídia aspira ocupar o lugar do Congresso, como representante da sociedade? Ou, divulga os fatos na primeira hora com a intenção de contribuir para a melhoria das instituições? Será que deve ficar incólume a qualquer controle judicial, para não limitar o direito à informação? Ou, como as demais atividades humanas, terá que responder perante a justiça, por excessos porventura praticados?Será que os parlamentares devem julgar a si próprio? Ou, a apuração de indícios de atos indecorosos devem ser transferidos ao Ministério Público e aos Tribunais?
Estas e outras perguntas pairam no ar. As opiniões divergem. Enquanto isto, a classe política continua sendo a primeira atingida pelos estilhaços das denuncias. Ouvi na TV um apresentador (talvez candidato a deputado) comentar crime ocorrido em MG – marido matou a esposa – e atribuir que o brutal assassino “seria” igual aos políticos corruptos. Dá Ibope falar assim!
Quando exercia o mandato de deputado federal, certa vez fui à tribuna defender o vice-presidente, José Alencar. Ele fora acusado de trafico de influência, por ter solicitado pressa, no atendimento de um transplante de medula óssea. Logo verifiquei no meu gabinete, as inúmeras cartas que expedira, em situações semelhantes. No atendimento de pedidos do eleitor, o homem público fica diante do dilema de desconhecer tais solicitações e ser taxado de ingrato, insensível e sem atenção; ou, atende-las e correr o risco de ser alvo de investigação e manchetes como traficante de influência e outras coisas mais.
Realmente, é muito grande o risco de fazer política, hoje no Brasil. Parafraseando Millor Fernandes, exercer mandato ou cargo público é o mesmo que desenhar sem borracha. Na atividade política, a reputação pode ser destruída do dia para noite. É como o fogo. “Uma vez aceso, conserva-se bem; mas se apaga é difícil acende-lo” (Plutarco).
Há realmente políticos delinqüentes. Da mesma forma que existem profissionais liberais, religiosos, militares e outras categorias sociais. Em todos os casos, a tão decantada punição exemplar não pode se transformar em condenação antecipada. A democracia necessita da classe política. Os que optam pela vida pública não podem ficar expostos às intempéries da maledicência e dos “flagrantes preparados”. Pelo andar da carruagem, é quase impossível o eleitor confiar em alguém. Isto significa a porta escancarada para a volta do autoritarismo. Será melhor assim? Certamente que não.
Nem tanto mar, nem tanto ao peixe...
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Ney Lopes – Jornalista; advogado e ex-deputado federal
Publicado aos domingos nos jornais
DIÁRIO DE NATAL e GAZETA DO OESTE
Natal e Mossoró - Rio Grande do Norte -
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