Brasília em Dia
-
06 de Fevereiro de 2010
O direitista da esquerda
Faleceu em São Paulo, o jornalista Calazans Fernandes. Conterrâneo do RN, com ele convivi, durante anos. Trabalhamos juntos no jornalismo, em Natal, Recife e São Paulo.
No início dos anos sessenta, Calazans deixou as redações de jornais e aceitou convite do governador Aluízio Alves para assumir a Secretaria estadual de Educação e Cultura do RN.
Nascido em Marcelino Vieira, RN partiu cedo para os desafios profissionais no Rio de Janeiro. No “Diário da Noite” (32 anos) escreveu a série de reportagem “imprensa marrom”. Fez-se de morto para obter uma certidão de óbito. Ganhou (1948) o premio Esso de Reportagem, maior galardão da imprensa nacional. Á época foi também premiado o atual ministro Franklin de Oliveira, com a série “fabrica-se novo nordeste”, publicada no Correio da Manhã.
Após o presidente John Kennedy lançar o programa “aliança para o progresso”, Calazans imaginou conseguir a doação de milhões de dólares, destinados a um mega programa de alfabetização em massa no Rio Grande do Norte, a base do método do professor Paulo Freire (alfabetização de adultos, através da repetição de palavras-chaves ligadas a realidade social). Parecia impossível a doação de dólares para financiar projeto de intelectual da esquerda. O primeiro obstáculo removido foi convencer Paulo Freire sair de Pernambuco.
O nordeste brasileiro era visto como um caldeirão revolucionário, tangido pelas “ligas camponesas” de Francisco Julião.
Calazans não se intimidou. Criativo e ousado propôs ao então governador do RN, Aluízio Alves, seu ex-colega da “Tribuna da Imprensa”, aproximá-lo do presidente John Kennedy. Como primeiro passo conseguiu uma audiência de Aluízio com Kennedy, em Washington DC. Contou com a ajuda do jornalista e conterrâneo potiguar, Jaime Dantas, correspondente no Brasil da revista “Time” durante 25 anos e o primeiro profissional da imprensa brasileira a presidir o Clube da Imprensa estrangeira, o “Overseas Press Club”.
Calazans Fernandes alcançou o seu objetivo. Implantou o "Método Paulo Freire” financiado pela “aliança para o progresso”. Analfabetos aprenderam a ler em quarenta horas, na cidade de Angicos, RN. Veículos de comunicação do mundo inteiro destacaram a experiência potiguar. John Kennedy prometeu a ele visitar o RN, antes do assassinato. Depois, o seu irmão – senador Bob Kennedy – cumpriu a promessa, a convite de Aluízio e Calazans.
Após afastar-se do governo Aluízio Alves instalou-se em Recife, como diretor da sucursal Norte-Nordeste da FOLHA e colunista do Jornal do Commércio. Logo imaginou um programa de cadernos especiais sobre temas regionais. Convidou-me para ser repórter especial. Deixei Natal e aceitei. Dirigido por Calazans, andei o nordeste inteiro produzindo matérias para a FOLHA e JC. Trabalhei ao lado dos colegas de profissão à época, Joezil Barros, Gaudêncio Torquato, Anchieta Helcias, Camelo, Egidio Serpa, Manoel Chaparro, Teixeirinha, Esmaragdo Marroquim, Zezito Maciel e outros jornalistas.
A conselho de Calazans juntei-me a Odilon Ribeiro Coutinho, parlamentar seu amigo, e fundamos o MDB no RN. Com 21 anos candidatei-me a deputado federal e Odilon a Senador. Com as baionetas nas ruas enfrentei as oligarquias potiguares, que nunca me perdoaram. Fui denunciado e detido em plena campanha feita nas esquinas, em cima de um tamborete. Tempos duros! Ao final, milhares votos, sem alcançar o quociente eleitoral.
Em 1967, Calazans transferiu-se para a editora abril, em São Paulo. Quis me levar. Preferi casar, ficar em Natal como correspondente da FOLHA, Diário de Pernambuco, revista “O Cruzeiro” e o exercício da advocacia. Cheguei a ganhar um premio “Esso de reportagem” (regional), com a série “A cidade por dentro”, mostrando as contradições sócio-econômicas de Natal.
Nunca perdi o contato com Calazans. Ele participou da criação da Fundação Roberto Marinho, da Rede Globo. Implantou o telecurso, método de ensino a distancia.
Graduado em filosofia, seu perfil ideológico era de direita. Entretanto, agia como de esquerda. Protegeu em plena revolução, na experiência de Angicos, jovens egressos dessas correntes ideológicas. Chegou a ser acusado de “comunista”.
Na verdade, Calazans Fernandes foi um direitista de esquerda!
Coluna semanal
Revista Brasilia em Dia
www.brasiliaemdia.com.br
Notice: Undefined variable: categoria in /home/neylopescom/public_html/noticia.php on line 42
Notice: Trying to get property of non-object in /home/neylopescom/public_html/noticia.php on line 42
Notice: Undefined index: pagina in /home/neylopescom/public_html/noticia.php on line 42
Notice: Undefined variable: totalPaginas in /home/neylopescom/public_html/noticia.php on line 42
Notice: Undefined offset: 1 in /home/neylopescom/public_html/restrito/incs/funcoes.php on line 618