Brasília em Dia
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07 de Novembro de 2009
Vela a Deus, outra ao diabo!
Finalmente, a pressão internacional conduz a um acordo em Honduras. O Congresso decidirá o destino político do Sr. Manuel Zelaya e todos respeitarão o resultado das urnas do próximo dia 29. O maior beneficiado é o Brasil, por sido encontrada alternativa para a “lambança”, que resultou na longa hospedagem gratuita do Sr. Manuel Zelaya, em nossa Embaixada.
O “hóspede” pousou de estadista injustiçado e negou-se até a pedir asilo. O nosso governo omitiu-se na aplicação da lei federal 6.815, de 19 de agosto de 1980 (artigo 107, inciso I), que estabelece claramente a proibição do asilado político propagar, ou difundir entre compatriotas “idéias, programas ou normas de ação de partidos políticos” do seu país de origem. Se a proibição legal existe para o asilado, imagine para um clandestino!
Em 28 de junho, em plena campanha para a escolha do seu sucessor, Zelaya foi obrigado a sair do país, por desejar mudar a Constituição. Com a solidariedade política do aliado Hugo Chávez, tentou passar por cima da cláusula pétrea, que impede reeleições no país.
Roberto Micheletti, presidente do Congresso, assumiu o poder já que o vice-presidente renunciou para disputar a Presidência. No palácio do governo foi encontrada uma estátua de Zelaya, que ele mandara esculpir para perpetuar-se nas galerias oficiais.
Em janeiro de 2006, na presidência do Parlamento Latino Americano, estive na posse do Presidente Manuel Zelaya. Vi a emoção nas ruas de Tegucigalpa, cidade muito acolhedora. O povo o chamava de “el Chapelon” e “el bigodon”. Zelaya, então 53 anos, era um milionário empresário agrícola e madeireiro, conhecido por seus correligionários como "Mel". Elegeu-se no Partido Liberal hondurenho, com forte oposição da esquerda, hoje sua aliada. Conversamos alguns minutos na recepção, após a posse. Pareceu-me um homem inseguro no que dizia. Falava alto e exibia gestos largos. Verdadeiro falastrão, com o “jeitão” de Odorico Paraguaçu.
O “hóspede” teve cama, mesa e banho ao seu dispor e de simpatizantes, durante meses em nossa Embaixada. O governo considerou normal a “invasão da embaixada”, por cerca de cem correligionários de Zelaya, todos no estilo do “MST”, que se transformou em escritório político inflamada tribuna para mobilizações políticas.
No episódio hondurenho ressurgiu o “patrulhamento ideológico”. Ou se aceitava que o Sr. Zelaya foi deposto, ou simples ponderação sobre a legalidade do seu afastamento provocava a acusação de “golpismo”. O Brasil, com a sua notória liderança, perdeu a oportunidade de ser o mediador. Aliou-se a Zelaya e a Chávez. Mais uma vez em nossas relações externas prevaleceu o “sotaque progressista”(!!!), que o Presidente Lula usa como estratégia para satisfazer quem gosta de ouvi-lo falar dessa maneira... Ao mesmo tempo, a articulação autoritária, que se dissemina na América Latina – comandada por Chávez – espertamente propagou na mídia “vacina política” para evitar que os tribunais e congressos nacionais – dentro da legalidade - contenham as exorbitâncias de “companheiros”, que buscam usufruir o poder sem controles.
O Presidente Obama - “em cima do muro” – até a última hora deu corda ao presidente Lula, a quem chama de “o cara”. Como forma de retribuir o elogio da Casa Branca e equilibrar os excessos do “sotaque” presidencial, o governante brasileiro qualificou de “corretíssima” a posição americana em Honduras, esquecendo a declaração do representante dos EEUU na OEA, Lewis Anselem, que afirmou ter sido “irresponsável” a volta de Zelaya e não servir “aos interesses do povo" hondurenho.
O Brasil nesta crise acendeu uma vela a Deus e outra ao diabo. Aliás esta tem sido a característica da nossa política externa. Em nada contribuiu para a solução final. Sai da “lambança” por mera circunstância.
A crise política de Honduras lembra o Marques de Maricá: “quem olha para fora sonha. Quem olha para dentro desperta”.
Olhando-se para fora, notava-se a versão midiática de que Zelaya fora deposto por golpistas. Olhando-se para dentro, tornava-se nítido que o desejo do golpe era do próprio Zelaya, ao tentar perpetuar-se no poder. O grande erro em Honduras foi a expulsão de Zelaya, transformando-o em mártir. O Brasil não cometeu esse equívoco, no afastamento do Presidente Collor.
Agora, o caminho natural serão as eleições de 29 de novembro e a entrega do poder a quem ganhar. Certamente, o atual “hóspede” da nossa embaixada virá morar em Brasília, no Lago Paranoá, com as mordomias que lhe serão oferecidas pelo governo brasileiro, a pedido do “companheiro” Chavez....
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