Brasília em Dia
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23 de Janeiro de 2009
O discurso de Obama
Na cerimônia de posse, após jurar a Bíblia – a mesma usada por Abraham Lincoln em 1861 – e diante de mais de dois milhões de pessoas –, o presidente Barack Obama, dos Estados Unidos, usou expressões semelhantes às do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao declarar que “os EUA escolhera a esperança, em vez do medo e a unidade em vez da discórdia”.
A verossimilhança ocorre pelo fato de o presidente Lula ter afirmado, após a sua vitória, que “a esperança venceu o medo, e hoje eu posso dizer para vocês que o Brasil mudou sem medo de ser feliz”.
Aliás, os presidentes Lula e Obama podem ser qualificados como “vendedores de esperança”. Ambos usaram o discurso da campanha eleitoral na pregação de mudanças radicais no futuro. Tudo em razão de ambos os países enfrentarem à época graves dificuldades econômicas e sociais. Em 2002, o Brasil sofria os efeitos de quatro crises econômicas mundiais: da Rússia, México, Tailândia e Argentina. Em 2008, os Estados Unidos mergulharam na pior recessão da sua história.
Nos degraus do Capitólio, o presidente Obama foi mais comedido em relação à explosão de esperanças. Mesmo assim, repetiu o tom messiânico dos palanques, ao declarar que veio “para proclamar o fim das falsas promessas, os falsos dogmas que duraram por tanto tempo na política”.
A retórica presidencial comprometeu o seu governo com as promessas de reduzir as emissões de carbono dos EUA e subscrever o protocolo de Kioto; reduzir as tropas do Iraque dentro de 16 meses e não manter nenhuma base permanente no país; eliminar todo o armamento nuclear do planeta; fechar a base naval de Guantánamo; dobrar a destinação de recursos para reduzir a pobreza e lutar contra o HIV/AIDS, a tuberculose e a malária; abrir diálogo com o Irã e a Síria; desmilitarizar o serviço de inteligência do governo; somente negociar tratados de livre comércio com o país que assegure proteção trabalhista e ambiental; investir U$ 150 bilhões de dólares em projetos de energias renováveis e colocação dos carros elétricos nas ruas.
A palavra de Obama na posse foi marcada por dois aspectos, vinculados a sua estratégia de governo. Primeiro, o aceno à concórdia, ao dirigir-se de forma cordial ao ex-presidente Bush, que sai do governo em queda livre de popularidade. No dia anterior, jantou com o seu opositor na disputa presidencial e pediu ajuda. Segundo, o anúncio de recolocar os EUA na liderança do mundo e a intenção de combater o terrorismo.
“Tudo isso nós vamos fazer juntos”, disse Obama. Pediu “o início de uma nova era de responsabilidade e um novo papel para o país no mundo, baseado na cooperação e no diálogo”. Apelou para os valores fundamentais dos EUA como meio de começar novo capítulo na história americana.
Nota-se a extrema habilidade do presidente nos seus primeiros passos em Washington DC. Ele se antecipa inteligentemente às dificuldades que virão “pela frente”. Sabe muito bem não ser fácil contorná-las! Por isso, reduz de véspera o desgaste natural que poderá sofrer, convocando todos para a união e, assim, dividindo as responsabilidades. Se não resolver o quadro de crise aguda da economia, terá sempre como pedir mais tempo, já que todos apoiarão as suas metas de trabalho.
Obama chega à Casa Branca com o olho fixo na governabilidade. Exatamente, a maior preocupação que deve ter um chefe de Estado democrático.
A primeira fala presidencial pouco – ou quase nada – revelou quanto às posições americanas em relação ao resto do mundo. Confirma-se a tendência do Partido Democrata de centralizar as suas preocupações de governo em temas internos e no fortalecimento do próprio país. Esperava-se alguma referência ao conflito entre árabes e judeus; meio ambiente; América Latina; ações concretas e globais para combater a crise econômica e outros temas. O empossado preferiu falar de generalidades e buscar a união política de todos.
Notou-se até no semblante do empossado o esforço para demonstrar calma e determinação. Talvez, para esconder o populismo da campanha. Nervoso, na hora do juramento, chegou a equivocar-se e reagiu com sorriso de desculpas.
Para quem assistia à solenidade na TV, o presidente passou a ideia de que tem a exata noção da sua responsabilidade. Em resumo, divagou no discurso, cruzou os dedos e “pediu tempo”. Não se sabe o que fará nessa trégua política, que parece ter conseguido. Poderá cuidar, exclusivamente, dos interesses americanos. Ou adotar uma política externa que compartilhe ações de efetiva cooperação e parceria.
Só resta, agora, esperar. O discurso de posse nada antecipou.Coluna semanal
Revista Brasilia em Dia
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