Opinião
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17 de Janeiro de 2009
Entrevista com Obama
Amanheci com a síndrome do repórter. Imaginei estar em Washington DC e entrevistar Barack Obama, com exclusividade. Quem sabe, na hora do desembarque do trem que trará a família presidencial para a posse, a exemplo de Lincoln em 1861.
A missão parece impossível. Porém, o repórter considera tudo possível, na busca do fato. José Hamilton Ribeiro aponta quatro exigências para um repórter: “a vaidade, espírito de aventura, ambição profissional e uma pitada de falta de juízo”.
Waldemar Araújo defendia que o jornalismo começa com a função do repórter. Recebi as lições dele, ao iniciar em 1959 a carreira de repórter, com 14 anos de idade.
Em 1962, estava no Rio de Janeiro. Cedo, li que o então governador Carlos Lacerda daria entrevista à “grande imprensa”.
Afoitamente, busquei o “furo” jornalístico. Na sala da “coletiva”, sentei-me ao lado do entrevistado, diante dos olhares surpresos dos “coleguinhas” (!!!). Apresentei-me como “repórter” do Jornal A Ordem de Natal, órgão da Igreja Católica. Indaguei sobre a participação da igreja nos movimentos sociais. Lacerda respondeu: “a missão da igreja deve ser a de pescar almas. Ocorre que, a igreja coloca iscas sociais na ponta do anzol e, às vezes, se preocupa mais com a isca do que com o peixe”.
Todos riram. Não perdi a “esportiva” e ainda fiz três perguntas ao governador. A matéria foi manchete, em Natal.
“Furão”, também entrevistei com exclusividade o presidente João Goulart, na chegada dele a Tangará, para instalar a energia de Paulo Afonso no RN; duas vezes o Marechal Castelo Branco: em Natal, chefe do EMFA e em Teresina, Presidente da República; o Ministro da Guerra, Marechal Costa e Silva, após o desembarque no aeroporto do Recife, quando ocorreu atentado a bomba (era repórter do Diário de Pernambuco e escapei por milagre); Celso Furtado, o “fundador” da SUDENE; o ex-presidente JK, ao visitar o RN; a filha de Tobias Barreto, favelada em Recife; o senador Robert Kennedy na inauguração do “Instituto Kennedy” e outras personalidades.
Ganhei em 1965, o “Prêmio Esso” de reportagem, galardão da imprensa brasileira.
A ENTREVISTA COM OBAMA
Após missões bem sucedidas como repórter, por que não ousar “furar” o cerco da segurança e entrevistar Barack Obama, com exclusividade?
A rígida segurança presidencial, certamente impedirá. Mesmo assim, imaginei fazer uma entrevista com Obama. Pelas últimas opiniões dele, talvez tivéssemos o seguinte diálogo.
O Sr. não acha que prometeu demais para se eleger presidente? – “Tudo que prometi se resume na expressão: “sim, nós podemos”. Está claro que só faremos aquilo que for possível. Por exemplo: manifestei na campanha, posição favorável ao aborto e às uniões gays. Convidei para fazer a oração solene na cerimônia de posse, o pastor Rick Warren, um conservador contrário a tais idéias. Por que fiz isto? Justamente porque “nós podemos” unir todas as correntes de pensamento nos EUA. Se não concretizar tal ou qual meta prometida será para evitar a desunião dos contrários”.
Até agora o Sr. não anunciou nada concreto. Por que? – “Porque, “nós podemos” ainda fazê-lo”.
Na faixa de Gaza, o Sr. tomará posição totalmente contrária à de Bush? – “No caso da faixa de Gaza, acho que Israel atua em legítima defesa. Implantarei a diplomacia do “poder inteligente” (smart power), que significa atrair para negociação até inimigos. “Nós podemos” negociar com o Irã e a Síria. Quanto ao grupo islâmico Hamas, só haverá diálogo caso eles reconheçam Israel como Estado e desistam da violência. “Não podemos” reconhecer facção terrorista, que compra armas contrabandeadas e tem como objetivo a destruição de um país membro da ONU. Se necessário, irei à faixa de Gaza buscar esse entendimento”.
O Sr. irá mesmo cortar impostos? – “Cortar impostos sim, cortar receita pública, impossível. Os pobres devem ser ajudados, através de um “plano de emergência” para salvar a economia americana. Esse salvamento não poderá agravar a situação financeira dos bancos e das empresas automotivas. Todos terão que ser socorridos”.
O Sr. dará prioridade ao Brasil – “Nós podemos” dialogar com o Brasil para transferir a nossa experiência de crença na democracia e no capitalismo. “Não podemos” exportar os empregos do nosso povo, nem eliminar as tarifas de importação sobre o etanol brasileiro. “Nós podemos” exportar os nossos produtos e aumentar a cooperação, desde que não prejudique os produtores americanos. A nossa visão é tão nacionalista quanto a do Presidente Lula”.
O Sr. fechará a Base Naval de Guantánamo? – “Pretendo assinar decreto de fechamento da Base Naval de Guantánamo. Todavia, esse fechamento não será imediato, até que se encontre uma solução para abrigar os seus ocupantes”.
OBAMA E LULA
As respostas do novo presidente americano apontam certa semelhança com o presidente Lula. Ambos prometeram em suas campanhas eleitorais. No Brasil, pós eleição de 2002, a herança positiva deixada pelo antigo governo se transformou em mérito do novo governo. Quando surgem as crises e dificuldades, a culpa é sempre de “terceiros”.
Resta saber, apenas, se o Presidente Obama também tem ojeriza a leitura de jornais, como confessou, recentemente, o presidente brasileiro. Se tiver, será melhor permanecer desinformado da realidade para manter o mesmo linguajar da sua recente campanha eleitoral.
Coluna Publicada aos domingos
nos jornais O POTI e GAZETA DO OESTE
Natal e Mossoró - Rio Grande do Norte
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