Brasília em Dia
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17 de Janeiro de 2009
Sobre mercados futuros
Vários são os diagnósticos acerca da atual crise econômica mundial. Um deles analisa os excessos dos chamados “mercados futuros”.
Os compradores temem alta e procuram fixar antecipadamente o preço quando realizam a “compra de futuro”. Da mesma forma, os vendedores previnem-se contra prejuízos causados pelas variações da taxa de câmbio ou juros. Na prática, o vendedor coloca o seu produto à venda e o comprador adquire esse mesmo produto para recebê-lo depois.
Os mercados futuros compram e vendem exclusivamente papéis. Antes, as transações eram à base de produtos tangíveis e físicos. Em outras palavras, o mercado hoje é virtual. Compram-se e vendem-se ativos financeiros vacinados previamente para não gerarem prejuízos. Esse processo especulativo termina por influir diretamente na alta dos alimentos, dos combustíveis e de qualquer outra commodity.
O processo especulativo dos “mercados futuros” se originou nos Estados Unidos, em meados do século XIX, entre produtores e compradores de produtos agrícolas. Funcionava como instrumento regular no mercado internacional.
A firma Lehman Brothers estimou, antes da decretação recente de sua falência nos Estados Unidos, que o preço médio do petróleo cru seria, em meados de 2008, de US$ 37 dólares por barril. Na mesma época, o produto ultrapassou US$ 150 dólares, em consequência unicamente da especulação dos “mercados futuros”.
Em junho de 2008, Fadel Gheit, diretor da empresa americana de petróleo Oppenheimer, na Câmara de Deputados dos Estados Unidos, declarou: “Creio firmemente que o atual preço do petróleo, acima de 135 dólares o barril, está inflado. O preço deveria não ultrapassar o patamar de R$ 60 dólares por barril”.
Em 21 de maio de 2008, John Hofmeister, presidente da Shell, declarou, no Senado norte-americano, que o preço do petróleo foi artificialmente aumentado e “deveria ter oscilações reais entre 35 e 65 dólares por barril”.
A alta do preço do petróleo no segundo semestre de 2008 ocasionou elevações dos preços dos fertilizantes, pesticidas e dos transportes das mercadorias para os mercados. Os efeitos perduram, mesmo diante da queda geral provocada pela recessão global.
Os mercados futuros globais consideram as “mercadorias” simples ativos financeiros. O preço acaba sendo fixado muito mais em razão do “valor especulativo” do que do valor real.
Ao longo do tempo – sobretudo após à globalização financeira – os “mercados futuros” se transformaram em “roletas” e abriram espaço para a especulação, sem o controle dos governos. Tornou-se rotina alguém vender um produto que não possui para terceiros que não desejam comprá-lo. Circulam exclusivamente papéis, cujos preços flutuam, em razão de mecanismos artificiais.
Nos Estados Unidos, a legislação denominada “Commodity Exchange Act de 1936” já previa que a excessiva especulação na venda de bens para a entrega futura provocaria flutuações danosas na fixação do preço do produto. Para evitar tais distorções de mercado, a citada Lei criou uma Comissão – Commodity Futures Trade Commission (CFTC) – com a finalidade de fiscalizar rigorosamente os preços do mercado futuro, vinculando-os à lei da oferta e da procura. Entretanto, no ano 2000, o Congresso norteamericano aprovou novas regras de desregulamentação dos mercados futuros – “Commodity Futures Modernization Act”. A partir daí, as operações comerciais passaram a ser por via eletrônica (“over-the-counter”), sem nenhum controle oficial.
Nunca na história da economia mundial constatou-se tamanha distorção dos “mercados futuros”. Múltiplos são os exemplos de explosões de verdadeiras “bombas relógios”, dos tipos Nasdaq, fundos de pensões, companhias de seguros, bancos e fundos de proteção (hedge funds).
Entre as causas que explicam o grave momento da economia mundial, os “mercados futuros” estão à frente. Eles geram pressões inflacionárias, queda de empregos, instabilidade política, déficits de conta corrente e balança de pagamento, desvalorização das moedas e aumento das taxas de juros.
O crescimento da especulação financeira resulta da ordem econômica internacional, implantada com o sistema Bretton Woods, em 1944. Diante de tal realidade, o futuro da América Latina dependerá do sonho de uma nova ordem, mais justa, solidária e equitativa, que envolva todas as nações do mundo, as ricas e as pobres.Coluna semanal
Revista Brasilia em Dia
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