Opinião
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13 de Setembro de 2008
A verdade dói
“Prefiro desagradar com a verdade, do que agradar com adulações”. (Sêneca)
Não sei o que o Presidente da República dirá na sua visita ao RN sexta-feira próxima. Essa história de anunciar a construção de nova Refinaria é fazer de “trouxa” o nosso povo. O estado já tem uma pequena refinaria há anos, em Guamaré. Se vai ser ampliada, é preciso esclarecer o tamanho da ampliação. Pelo que se fala, trata-se de uma “ampliaçãozinha”. O investimento seria uma “merreca”, só pra inglês ver, se comparado com as novas “megas” refinarias do Maranhão, Ceará e Pernambuco.
Pergunta-se: o RN merece isto, sendo um dos maiores produtores de petróleo do Brasil?
Não se trata de posição político-partidária. Está em jogo o futuro de um estado, transformado em perdedor contumaz nos últimos anos. O Ceará propaga a chegada da sua mega refinaria “premium” de petróleo, ampliação do porto, siderúrgica, gás abundante (todo originário do RN), energia limpa e água suficiente. O Ceará receberá R$ 30 bilhões de investimento e a geração de mais de 200 mil empregos.
Enquanto isto, o Rio Grande do Norte contabiliza “perdas”. Lembro as três principais: a refinaria de petróleo, a ferrovia transnordestina e a área de livre comércio.
REFINARIA DO “FAZ-DE-CONTA”
Refinaria no RN não é novidade. Desde 11 de dezembro de 2001, a Agência Nacional de Petróleo autorizou o projeto de uma refinaria, no pólo industrial de Guamaré, RN. (Processo nº: 48610.013670/2001-23 - PA nº 2625/2001 - RD nº 917/2001).
Atualmente, essa “minirrefinaria de Guamaré” produz óleo diesel, querosene de aviação, gás natural, gás de cozinha (GLP), biodiesel, nafta, gás natural e a chamada Gasolina C5+, que é base para fabricação de vernizes e tintas.
Sabe-se que a Petrobras, realmente, fará uma “ampliaçãozinha” na minirrefinaria de Guamaré. Nada a opor. Porém, é muito pouco para um estado produtor, que extrai petróleo e entrega ao governo desde 1976 com a descoberta do campo de Ubarana. Por que o Ceará, Maranhão e Pernambuco, praticamente sem reservas, terão grandes refinarias e o RN fica com pequena reforma numa que já existe desde 2001?
Como explicar que o Presidente da República anuncie a construção de nova refinaria do Rio Grande do Norte, denominada “Clara Camarão”? Que nova? A memória da heroína potiguar merece respeito. Não poderá ser usada para iludir a opinião pública, com propaganda enganosa!
A ampliação prevista para Guamaré somente fará justiça ao RN, se o investimento for igual, ou superior ao realizado pelo governo federal no Ceará, Maranhão e Pernambuco. Do contrário, a visita presidencial servirá para confundir a opinião pública e não para explicar, como recomendava Chacrinha. Será unicamente para anunciar a “refinaria do faz-de-conta”.
FERROVIA TRANSNORDESTINA
Em 12/05/05 era deputado federal pelo Rio Grande do Norte. Participei de reunião da bancada e da governadora, com o Ministro Ciro Gomes. Ele anunciou, sem “meias palavras”, que o RN seria excluído da ferrovia transnordestina, obra do governo federal. O Ceará estava fora do projeto e entrou.
Protestei na hora! Como chamar de transnordestina uma ferrovia que excluía o mais nordestino dos Estados do Nordeste, com 95% do seu solo no semi-árido? Um crime contra o nosso futuro. E com muitos cúmplices, por ação e omissão.
Denunciei várias vezes na tribuna da Câmara dos Deputados. Nada adiantou. O RN até hoje está fora da ferrovia transnordestina.
O incrível - e mais grave - é que transcrevi nos anais da Câmara dos Deputados, o estudo técnico do professor Marcos Caldas, do núcleo de logística integrada e sistemas, da Universidade Federal Fluminense, graduado em Londres e uma das maiores autoridades brasileiras em ferrovias. Ele conclui pela total viabilidade da inclusão do RN no percurso (355 km) e que o prolongamento da ferrovia, através do Vale do Açu e Mossoró, aumentaria a justificativa econômico-financeira de sua implantação no RN. Tenho esse documento.
Os governos federal e estadual fizeram “ouvidos de mercador”.
Qual a explicação para isto?
ÁREA DE LIVRE COMÉRCIO
Em 14 de fevereiro último, foi editada a MP 418 para regulamentar as Zonas de Processamento de Exportação (ZPE). Apelei à época para o governo estadual reivindicar emenda na MP, que criasse ao lado do aeroporto de São Gonçalo do Amarante uma área de livre comércio. Significariam 50 mil empregos para os desempregados, em médio prazo. Silêncio geral!
Sabe qual foi o final da “novela”? O senador Romero Jucá e a deputada Helena Veronese lutaram e Boa Vista (Roraima), por ser fronteira terrestre, ganhou a única área de livre comércio do Brasil. A “grande Natal” - a maior fronteira marítima e aérea da América Latina e Caribe, próxima da África e Europa - ficou a “ver navios”! Faltou quem defendesse o RN. Se ZPE é a mesma coisa de área livre, por que Roraima não quis ZPE e sim uma área de livre comércio? Perdemos, mais uma vez...
Enquanto isto, o RN continua o “bobo da Federação brasileira”. E ainda alardeia-se prestígio junto ao governo federal! Que prestígio? Para que serve?
Contra fatos não há argumentos. Esta é a verdade que dói na véspera de mais uma visita do Presidente da República ao nosso estado.
Coluna Publicada aos domingos
nos jornais O POTI e GAZETA DO OESTE
Natal e Mossoró - Rio Grande do Norte
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