Brasília em Dia
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05 de Julho de 2008
As idéias de dona Ruth
Sempre fui entusiasta das idéias da senhora Ruth Cardoso, esposa do ex-presidente Fernando Henrique. Como membro do Congresso Nacional, no período de 1995-2002, testemunhei a sua simplicidade e austeridade na condução do programa “Comunidade Solidária”. Agia com discrição e firmeza. Nunca transformou a pobreza e as desigualdades sociais em bandeiras eleitoreiras.
A morte inesperada de dona Ruth Cardoso assegurou-lhe o reconhecimento unânime de que foi ela a grande precursora dos programas sociais no Brasil. O exemplo maior é a “Comunidade Solidária”, criada em 1995 e, após 2002, transformada na OSCIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) Comunitas, com ações prioritárias na alfabetização solidária e a capacitação profissional.
Há grandes diferenças entre as ações sociais do governo Fernando Henrique e o atual. A doutora Ana Peliano, secretária executiva da Comunidade Solidária, resumiu tais aspectos quando declarou: “a fome é apenas uma das faces da pobreza. Esta é muito mais ampla e representa a falta de acesso à educação, à saúde, à alimentação, à habitação e ao saneamento, por exemplo. Nós queríamos atacar o conjunto da pobreza e universalizar o acesso de todos a esses programas sociais”.
Após os chefes de Estado de 191 países terem assinado, em 2000, as “metas do milênio” na Organização das Nações Unidas, a “Comunidade Solidária” transformou-se em programa social pioneiro no mundo. Os objetivos daquele “Tratado Internacional” já eram perseguidos pelo Brasil desde 1995, por meio da iniciativa da Sra. Ruth Cardoso. A previsão é que “as metas do milênio” sejam alcançadas até 2015, tais como, acabar com a fome e a miséria; educação básica e de qualidade para todos; igualdade entre sexos e valorização da mulher; reduzir a mortalidade infantil; melhorar a saúde das gestantes; combater a aids, a malária e outras doenças; qualidade de vida e respeito ao meio ambiente e todo mundo trabalhando pelo desenvolvimento.
A sólida formação intelectual da senhora Ruth Cardoso deu-lhe visão crítica da realidade mundial. Apontava falhas e méritos na globalização e repetia sempre não ser possível esconder a realidade. Em verdade, a globalização permitiu a formação de uma consciência internacional com relação à pobreza e às insuportáveis desigualdades sociais. Daí ter nascido à concepção global de combate a tais males, por meio das “metas do milênio” e da “agenda 21” (ONU).
A lição mais expressiva das teorias sociais da Sra. Ruth Cardoso foi a maneira honesta como enfrentou os problemas sociais. Ela afirmava que “é preciso parar de entorpecer a pobreza com doses homeopáticas e alguns remedinhos que talvez diminuam um pouco o problema, mas não deixam os anticorpos necessários para que essas próprias comunidades possam encontrar seu caminho de desenvolvimento e a maneira de se fortalecer, de se fazer presente no mundo com uma outra cara que não seja a cara que divide os pobres e os ricos constantemente”.
O renomado economista Jeffrey Sachs, presidiu Comissão nomeada pelo então secretário geral da ONU, Kofi Anan, destinada a avaliar o andamento das “metas do milênio”. Em relatório, Sachs escreveu que “a pobreza mata”. A afirmação permite concluir que o efeito mortal da pobreza não está apenas na fome, mas sobretudo na falta de oportunidades, que leva à impossibilidade de aproveitar as qualidades humanas próprias, tornando o ser humano improdutivo. Encontra-se justamente nesse aspecto o equívoco de confundir programa social com mero assistencialismo.
Um exemplo para análise no Brasil seria o programa do “Bolsa Escola”, usado pelo atual governo federal, porém originário do “Comunidade Solidária”. As linhas que inspiraram tal ação visam à busca por melhor gestão, coordenação e integração de um conjunto de programas considerados prioritários para o enfrentamento de situações críticas de pobreza e o desenvolvimento de novas formas de parceria entre o Estado e a sociedade. O programa “Bolsa Escola” nasceu para ser instrumento de transferência de renda e de ascensão social, por meio da melhor qualificação dos beneficiários.
O programa social eficaz será aquele que se ajuste ao conceito de desenvolvimento sustentável (Agenda 21 da ONU) e permita a satisfação das necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das futuras gerações de suprir as suas próprias necessidades. Assim sempre pensou e agiu a antropóloga Ruth Cardoso. A sua morte é uma perda irreparável para todos aqueles que se preocupam no mundo com o verdadeiro combate à pobreza e às desigualdades sociais, seguindo o preceito bíblico de “fazer o bem sem olhar a quem”.Coluna semanal
Revista Brasilia em Dia
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