Marca Maxmeio

De Olho Aberto

  • 08 de Março de 2008

    Algo mais no céu?

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    Com a assinatura de documento de consenso terminou a crise diplomática entre a Colômbia, Equador e Venezuela, nesta sexta durante o encontro do Grupo do Rio, em Santo Domingo.

    O presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, reconheceu que ingressou no território do Equador no último sábado, 2, quando foi morto o número 2 das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), Raúl Reyes.

    Esse tal Reyes, 59 anos, era considerado um dos homens da linha dura das FARC e braço direito do fundador da guerrilha, Manuel Marulanda ("Tirofijo").

    Para provar que também nas FARC tem nepotismo (os seus admiradores tanto condenam), ele era genro do chefe Marulanda, que, aliás, se acha em estado terminal de câncer. 

    Reyes foi morto com pelo menos mais 10 guerrilheiros, durante uma operação nas proximidades de Teteyi, no departamento de Putumayo, que faz fronteira com o Equador.

    Observe-se um dado importante: o governo colombiano apressou-se em pedir desculpas imediatas ao Equador pela incursão na "zona de fronteira" de helicópteros colombianos.

    É o caso de perguntar: por que a Colômbia agiu assim?

    O mundo sabe e não pode ser escondido. A guerrilha - cuja representação maior é das FARC - deseja “derrubar” a todo custo o Governo constitucional, eleito pelo povo colombiano, em eleições democráticas.

    Após anos de combates, a Colômbia entendeu que a solução desse combate à guerrilha está fora do seu território, ou seja, os guerrilheiros recebem ajuda e abrigo em países vizinhos. Tudo isto está provado.

    De outro lado, tem-se que admitir igualmente a invasão do território equatoriano pelos guerrilheiros das FARC.

    Por que só chamar de invasores os colombianos que procuram preservar a estabilidade política do seu país?

    Mesmo assim, a Colômbia pediu desculpas e explicou.

    De nada adiantou.

    Essa história de invasão de território existiu de parte, ou seja, tanto da Colômbia entrando no Equador, quanto do Equador permitindo (há vídeos e fotos comprovando) que os líderes das FARC circulassem por lá abertamente.

    “O risco que corre o pau corre o machado”.

    O Presidente Uribe da Colômbia declarou em Santo Domingo que não avisou previamente ao seu colega equatoriano, Rafael Correa, sobre a operação militar contra as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) em território do Equador. Disse que se tivesse avisado, a ação "teria fracassado".

    Uribe foi claro ao confessar ainda em seu discurso, que a operação em questão era "contra um dos mais terríveis terroristas da história da humanidade". 

    Tutto bene como dizem os italianos.

    O compromisso colombiano é de não mais repetir um ataque a outro país por questões de segurança, o que provocou a grave crise, já superada.

    As FARC surgiram em 1959, inspiradas na vitória de Fidel Castro em Cuba. Foram os comunistas colombianos quem o organizaram, estimando o número dos seus combatentes em 22 ou 25 mil guerrilheiros.  

    Na década de noventa, diante da estagnação econômica e política de Cuba, a derrota eleitoral dos sandinistas na Nicarágua e a pouca expressividade dos zapatistas em Chiapas no México, a guerrilha colombiana perdeu sustentação e rumo.

    Virou um barco sem leme e sem destino.  Partiram para viver nas selvas, em regiões que controlavam.  Aproximaram-se então do narcotráfico, servindo de milícia protetora das áreas do plantio da folha de coca espalhadas na floresta, ou exigindo tributos dos camponeses e agricultores produtores.

    Aplicaram bem a teoria marxista de que “todos os fins justificam os meios”.

    A paz firmada em Santo Domingo tem um ingrediente novo na conjuntura atual da América Latina e do Caribe.

    Trata-se do comportamento “mais equilibrado e sereno”, assumido pelo Presidente Chávez da Venezuela.

    Deus queira que não seja passageira esta “nova fase política” do mandatário venezuelano. Em Santo Domingo, ele propôs que se evite uma guerra na América Latina e pediu um processo que permita a transformação das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) em um partido político "sem que seus membros sejam mortos".

    Enfatizou: "que (as Farc) entreguem as armas, que formem um partido político, mas que não lhes matem; que humanizem a guerra, que não utilizem o seqüestro como uma arma".

    Razoável a tese defendida por Chávez. Muito razoável. Em política “esticar a corda não resolve”. Ao contrário, a corda se rompe. As soluções nascem da capacidade dos envolvidos cederem partes dos seus pontos de vista. Por aí é construída a saída. Não há outro meio.

    Nessa linha acho palatável a idéia das FARC se transformarem em partido político, obedecerem às regras legais da Colômbia e defenderem os seus pontos de vista. Não é o melhor dos mundos, em razão do passado. Mas significa o cenário possível.

    O conflito – agora superado – começou com atitudes de Chávez e parece terminar com a ajuda dele, ao revisar comportamentos agressivos e “amornar” o seu discurso incendiário.

    Recorde-se que no domingo passado, Hugo Chávez reuniu a imprensa e em tons sensacionalistas ordenou a saída de todos os funcionários da embaixada da Colômbia em Bogotá. Em seguida, sob os aplausos de simpatizantes, numa sala do Palácio Presidencial, ordenou ao ministro da Defesa, Gustavo Rangel, que enviasse "dez batalhões para a fronteira com a Colômbia". Reforçou a idéia de guerra. De conflito armado.

    Embora a questão fosse entre Colômbia e Equador, o Presidente Chávez logo colocou na “roda” os Estados Unidos, a quem combate com expressões duras, mas preserva as relações comerciais que interessam à Venezuela. Denunciou: “Não vamos permitir que o império (Estados Unidos) e nem o seu cachorro venham a nos atacar". Criticou Álvaro Uribe, a quem acusou de "mentiroso, criminoso e mafioso", entre outras coisas, pelo que considera uma "flagrante violação da soberania do Equador".

    Somente após a “tutela” de Chavez, o presidente do Equador, Rafael Correa, anunciou a retirada de seu embaixador em Bogotá, Francisco Suéscum (que tinha classificado como "ato de guerra" o ataque militar colombiano), e a "expulsão imediata" do embaixador da Colômbia em Quito, Carlos Holguín.

    Correa também solicitou uma reunião urgente da Organização dos Estados Americanos (OEA) e da Comunidade Andina de Nações (CAN) para tratar do assunto.

    A OEA reuniu-se durante a semana. Chegou a um aparente consenso que solucionaria o impasse, porém os Presidentes Correa e Chávez, que enfrentam sérios desgastes internos, resolveram prolongar a crise. Talvez, uma forma de mobilizar arrebatamentos patrióticos, visando conquistar a confiança do povo e aumentar o prestígio político.

    A verdade é que o acidente militar da fronteira entre Equador e Bolívia agravou-se pela intervenção de Chavez. Aliás, desde que assumiu a presidência, ele instiga a Colômbia.

    Em janeiro de 2005, Chávez anunciou que suspenderia acordo e negócios com a Colômbia.

    Em novembro do mesmo ano disse que congelaria as relações com a Colômbia.

    Pouco tempo depois voltou ao normal.

    Tudo recomeçou em novembro de 2006, com o palco montado por Chávez para o ser “o pai” da libertação dos reféns das FARC.  Sucederam-se agressões e recuos.

    Até sexta, 8, a tensão existiu. Agora desaparece com o aperto de mão e “tapinhas nas costas” em Santo Domingo.

    Ocorreram recuos de parte a parte. Isto é bom. Política é a arte da convivência civilizada, em cujas soluções não podem ocorrer derrotados e vitoriosos.

    Até quem ganha uma eleição não sabe, por antecipação, se ganhou mesmo, ou se no futuro melhor teria sido perder. Que o diga, por exemplo, Fernando Collor de Melo.

    O desejo é que a América Latina e o Caribe consolidem a paz. Os desafios sociais não permitem conflitos.

    Só resta indagar, se para o “final feliz de Santo Domingo”- com tantos sorrisos, abraços e alterações de comportamento político - existiria algo mais no céu latino-americano, do que os aviões de carreira?

    Serão acenos vindos dos Estados Unidos, com as possibilidades de mudanças, após a eleição presidencial de novembro próximo?

    Talvez!!!!

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