Brasília em Dia
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18 de Janeiro de 2008
Democracia ou guerrilha
Uma coisa é a satisfação pela libertação das reféns colombianas Clara Rojas e Consuelo González, seqüestradas há anos pelas FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).
Outra coisa – inteiramente diferente – é concordar com a afirmação do presidente Hugo Chávez feita perante a Assembléia Nacional, de que as FARC e o ELN (Exército de Libertação Nacional) têm um projeto político respeitável e por isso propõe que o presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, governos do continente e a União Européia retirem a organização clandestina da lista dos grupos considerados terroristas.
Foi mais além o Presidente Chávez, ao afirmar que “são forças insurgentes que têm um projeto político, bolivariano, que aqui é respeitado”.
Indaga-se: onde estariam as semelhanças da guerrilha contemporânea na Colômbia com os ideais de Bolívar?
O pensamento de Bolívar era unir a América Latina, sem recorrer a processos de violência. Após a independência da chamada Grande Colômbia (Colômbia, Venezuela, Equador e Panamá), a batalha de Ayacucho no Peru (1824) encerrou definitivamente o domínio espanhol na América, salvo nas Antilhas. Em seguida, Bolívar promoveu o “congresso anfictiônico” do Panamá, inspirado nas reuniões helênicas da Grécia Antiga. Ele imaginava que o “istmo do Panamá” fosse para os latino-americanos o que fora o “istmo” de Corinto para os gregos.
Todas essas ações bolivarianas foram realizadas com respeito às liberdades humanas, inclusive convidados os países do mundo, entre eles, o Brasil e os Estados Unidos. Não há a menor semelhança com os processos usados pelos guerrilheiros.
Outra questão a ser esclarecida: quando e onde as FARC e o ELN tiveram diálogo de natureza política nos últimos anos? O que se sabe é que tais grupos mantêm estreitas ligações com o narcotráfico, venda ilegal de armadas, seqüestros, exigência para pagamento de “proteção” e atos assemelhados.
Por maiores que sejam as intenções e sentimentos humanitários não há como concordar com o Presidente Chávez. Ele pede ao mundo livre e democrático algo além dos limites. O marquês de Maricá (Mariano José Pereira da Fonseca), em seu livro “Máximas, pensamentos e reflexões” aconselhou: “a maior loucura política é ampliar a liberdade a quem não tem capacidade para bem usar dela”.
O que se pode desejar na busca pela paz é a hipótese da guerrilha cansar da clandestinidade e acenar em busca do entendimento e a libertação dos seqüestrados. Nessa hipótese cabe a clemência e até anistia. Na história do mundo existem precedentes. Para que isso ocorra, o comandante Manuel Marulanda, 77 anos - fundador e comandante perpétuo FARC - precisa mudar a linguagem usada no último dia 3 de janeiro, quando recomendou ao povo colombiano massacres, saques, convivência com o narcotráfico, exigências de 10% de imposto sobre quem ganhe mais de um milhão de dólares e outras ações.
Recorde-se o precedente da época em que governou a Colômbia o Presidente Pestana – que conheci pessoalmente quando presidi o Parlatino. Ele tentou saída negociada para a libertação de presos e desmilitarização de áreas. Em todas as oportunidades, a guerrilha prometeu uma coisa e fez outra.
A intenção clara na atual proposta de entendimento com a guerrilha é o distanciamento dos Estados Unidos e a implantação de um regime socialista, travestido de “bolivariano”. Isto é impossível. Justiça se faça. Nem mesmo Fidel Castro, nos antagonismos históricos com os norte-americanos chegou a esse nível. Os Estados Unidos têm sólidas relações multilaterais na América Latina e não será por uma exigência unilateral da guerrilha colombiana que elas enfraquecerão.
A opinião pública precisa estar bem esclarecida para não reagir emocionalmente. A alegria pela libertação de seqüestrados, não poderá assemelhar-se aos festejos do “ano novo”, no famoso filme “Poseidon”. Naquele navio ergueram-se brindes, porém o futuro chegou mais rápido do que os passageiros imaginaram. Uma enorme onda acerta a lateral do transatlântico e leva a embarcação ao naufrágio.
Passou a ser de sobrevivência a luta pela estabilidade democrática na América Latina. Qualquer “passo em falso” provocará “naufrágio político”, com destroços que agravarão a situação não apenas da Colômbia, mas da região. Os riscos de instabilidade atingem a todos. Inclusive o Brasil, ninguém duvide.
Tudo porque, não existe “democracia guerrilheira”, ou “guerrilha democrática”. Tem que ser uma coisa ou outra. Eis a difícil questão. (Seu Comentário)Coluna semanal
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