Marca Maxmeio

De Olho Aberto

  • 22 de Dezembro de 2007

    O "recado" de Vilma

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    Em política nada acontece por acaso.

    No meio das festas de eleição do senador Garibaldi Alves para a presidência do Congresso Nacional um fato chamou a atenção. A pressa com que a Governadora Vilma de Faria pediu a confirmação de uma audiência pessoal com o Presidente Lula, em Brasília. Não se diga que ela pedira esse encontro há tempo. Em absoluto. O pedido foi feito, com insistência, logo após a vitória de Garibaldi.

    E mais: mesmo diante das insinuações divulgadas na imprensa local, a governadora Vilma não convidou o Senador Garibaldi Alves, nem o deputado Henrique Alves, líder do PMDB - integrantes ativos da “base de apoio ao Governo” - para acompanhá-la no encontro presidencial.

    E mais, ainda: a governadora solicitou ao cerimonial do Palácio do Planalto, que a audiência começasse com a presença na sala, apenas do Presidente e ela. Até o seu secretário de Planejamento ficou na ante-sala. Só entrou cerca de dez minutos, após o início da audiência.

    Este cenário foi por acaso? Apenas objetivos administrativos?

    Não acredito.

    Pelo que conheço dos personagens locais imagino – e é imaginação mesmo – que o diálogo da Governadora Vilma com o Presidente Lula tenha sido, mais ou menos assim:

    PRESIDENTE – E então companheira Vilma como vão às coisas?

    GOVERNADORA – Para que fiquem bem preciso, mais uma vez, do seu apoio Presidente.

    PRESIDENTE – Como assim?

    GOVERNADORA – É o seguinte, Presidente. O senhor sabe com quem contou politicamente no Rio Grande do Norte e com quem poderá contar no futuro.

    PRESIDENTE – Claro que você e o seu grupo, Vilma.

    GOVERNADORA - Sendo assim quero informá-lo que no Rio Grande do Norte só se fala no prestígio e poder de Garibaldi e Henrique com o senhor. Qualquer assunto que dependa do Governo Federal eles poderão resolver. Claro que citam o meu nome. Porém, a interpretação é que resolvem, até sem a minha participação.

    PRESIDENTE – Mas você sabe companheira Vilma, o bem que lhe quero e a gratidão política pelo seu apoio.

    GOVERNADORA – Não duvido disso, Presidente. Todavia, vim aqui para pedir ao Senhor, sem testemunhas, que tudo – absolutamente tudo – que diga respeito ao Rio Grande do Norte seja atendido através do Governo do Estado. Até acho útil o reforço de Garibaldi, Henrique e quem quer que seja. Porém, prestígio e influência não se dividem. O senhor sabe disto.

    PRESIDENTE – Claro, companheira. Será assim. Eu lhe prometo.

    GOVERNADORA – Vamos começar Presidente pela obra do Aeroporto. Este é um compromisso do seu Governo assumido publicamente comigo. Gostaria de sair dessa audiência com a certeza de que este aeroporto será mesmo construído. Caso o Senhor me autorize direi isto à imprensa.

    PRESIDENTE – Pode dizer, companheira Vilma. Nenhum corte afetará o aeroporto de São Gonçalo do Amarante. É uma obra prioritária do PAC.

    GOVERNADORA – Outra coisa, Presidente. Há grupos e pessoas articulando concessão e construção civil do aeroporto junto ao BNDE´s e ao Ministro Mantega, com apoio político de parlamentares do nosso sistema político. Pediria também ao Senhor que qualquer decisão seja encaminhada através do Governo do Estado. Não abro mão de conduzir este assunto, juntamente com o Senhor. Não autorizo intermediários.

    PRESIDENTE – Fique tranqüila, companheira. Tudo será feito dentro desse seu pedido. Hoje mesmo falo com o Mantega e o Presidente do BNDE´s sobre isto para que nada seja feito sem o seu consentimento.

    GOVERNADORA – Obrigada, Presidente. Fico-lhe muito grata. Agora me permita chamar para a sala os meus auxiliares para tratarmos da pauta administrativa.

    Após a audiência presidencial – e só após – a Governadora procurou o Senador Garibaldi, o deputado Henrique Alves e parlamentares ligados. Terminou almoçando no Senado, a convite de Garibaldi.

    A conversa de Vilma pós audiência foi aparentemente amistosa. Só aparentemente. Reafirmou que desejava o apoio de todos, em favor do Rio Grande do Norte. Preocupou-se em não parecer radical.

    Entretanto, com as suas atitudes deixou muito claro que ajudas para o RN somente com a liderança e comando dela. Retirou da pauta conjunta com qualquer outro parlamentar o aeroporto de São Gonçalo do Amarante, no instante em que afirmou ter resolvido diretamente com o Presidente Lula. (Inclusive o processo de concessão administrativa futura e construção civil).

    Deixou aberta a possibilidade de outras reivindicações, desde que consultado previamente o seu Governo.

    O “recado” de Vilma foi de que a liderança é dela e somente ela tem o prestígio absoluto junto à Presidência da República.

    Note-se o tom de inquietude nas declarações dadas no dia seguinte por Henrique e Garibaldi.

    Henrique deixou transparecer a sua insatisfação com a certeza de que as obras do aeroporto prosseguiriam sem cortes. Disse que isto já estava resolvido há muito tempo. Queria algo mais do Presidente. Foi como se dissesse que sobre aeroporto ele tinha “algo mais” a colocar e pedir. Pelo que se sabe teria...

    Por outro lado, Garibaldi em encontro com jornalistas elogiou quem votou contra a CPMF, embora ressalvasse que se tivesse votado seria a favor. Admitiu erros na condução política do governo.

    Garibaldi e Henrique parecem ter entendido o “recado” de Lula e Vilma. E mandaram “outro” para a Governadora: “se a senhora quer conversar conosco temos que participar de tudo. Não nos deixe isolados”.

    Para o Presidente Lula, ambos despacharam outro telegrama: “Presidente, prestigie a Governadora, mas não nos deixe a reboque dela. Quem tem voto no Congresso é o PMDB. Não é o PSB”.

    Bem, vamos esperar para ver o que ocorrerá daqui pra frente.

    Os fatos demonstram que a união de Vilma com os Alves não é tão certa como se propaga. Diz-se que ela recentemente transpirou em conversas íntimas: “se eu me juntar a Garibaldi e Henrique estarei cometendo o mesmo erro que José Agripino cometeu”.

    A única certeza de tudo isto é que o “recado” de Vilma parece ter consolidado no Planalto a sua liderança política no Rio Grande do Norte. Pelo menos, por enquanto.     (Seu Comentário)

     

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