Marca Maxmeio

De Olho Aberto

  • 30 de Novembro de 2007

    Lula antes e Lula lá

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    “Lula antes” quer dizer, Lula candidato à Presidência da República. O “Lula lá” é depois de eleito.

    Conheci razoavelmente bem o Lula antes e o Lula lá. Convivi com ele na Câmara dos Deputados. Depois, integrei a bancada de oposição ao seu governo no Congresso Nacional.  Considero-me suficientemente amadurecido na vida pública para opinar sem emoções. À base de fatos e da razão.

    Até que reconheço méritos no Lula lá. O Lula antes, não. Apostava exclusivamente no “quanto pior melhor”. Se for correto utilizar a ética às avessas e aceitar a teoria de que todos os meios são lícitos para atingir os fins, ele agiu certo como eterno candidato a Presidente.

    Condenava muita coisa correta no Brasil para confundir a cabeça do “povão” e criar a mística de que seria a “salvação da Pátria”. No final, teve sucesso.

    Logo ao assumir, Lula antes mostrou que não teria nada a ver com o Lula lá. O eleitor radical de esquerda não percebeu, mas ele deu o sinal.

    Sabe quando?

    Na conversa que teve, em plena campanha eleitoral, com o Presidente FHC, que lhe pediu apoio para recorrer ao FMI (Fundo Monetário Internacional), diante do risco do Brasil ir para o buraco, junto com a crise econômica da Argentina.

    Naquela época, o pessoal do Lula antes e ele próprio consideravam FMI uma palavra de “baixo calão”. Toda desgraça que acontecia era responsabilidade do FMI. Ouvi muito isto, em discursos no Congresso de petistas históricos como José Genoíno, Mercadante, José Dirceu, Senador Suplicy e outros.

    Na resposta dada a FHC, Lula antes iniciou a metamorfose para o Lula lá. No célebre “manifesto ao povo brasileiro”, ambos concordaram que o Brasil tomasse empréstimo preventivo ao FMI de bilhões de dólares.

    Lula lá assumiu a Presidência da República e colocou as “unhas de fora”. Manteve integralmente a política econômica do Governo FHC. Foi mais adiante. Entregou o Banco Central do Brasil a um banqueiro internacional – Henrique Meireles, ex-presidente mundial do Banco de Boston – e que acabara de eleger-se em Goiás deputado federal pela legenda do PSDB.

    Agiu certo? Como não sou daqueles intoxicados por ideologias radicais, acho que ele agiu certo. Até com sensatez. Henrique Meireles é um homem competente. Mas, que ele mudou, mudou... O país presenciou uma mágica – no melhor estilo de Cooperfield – do Lula antes, transformado no Lula lá.

    Para quem ache que de nada vale a coerência em política, tudo bem. Mas, quem discorde disso considerará, no mínimo, artifício e ardil para obter vantagem eleitoral.

    No momento, está em discussão no Senado Federal a prorrogação para 2011 da CPMF. É outro exemplo atualíssimo do Lula antes e o seu PT, comparados com o Lula lá.

    Em 1996, quando a proposta de criação da CPMF chegou ao Congresso por sugestão do então Ministro da Saúde, Adib Jatene, Lula antes foi a Brasília e comandou a resistência. Jatene – hoje elogiado por Lula lá – reuniu-se com ele várias vezes e não conseguiu convencê-lo.

    Aliás, recentemente na Espanha, Lula lá disse à imprensa: “eu fui ao Congresso pedir para barrar a [criação] CPMF".

    Na prorrogação da CPMF em 1999, o deputado José Genuíno interpretou o pensamento de Lula antes, ao declarar: "nos posicionamos contra a prorrogação da CPMF. Quem mais se beneficia da CPMF é o governo. Achamos que a CPMF é a anti-reforma fiscal e tributária. A oposição coloca-se contrária à CPMF por razões globais, pela visão de outro modelo econômico, diverso desse que o presidente Fernando Henrique Cardoso adota.”

    Na mesma época, o Senador Mercadante opinou: “esse imposto não contribui para as exportações, que é o desafio maior da economia brasileira. Aumentar a carga tributária e o imposto cumulativo significa aprofundar a recessão do país. Chega de mais impostos, chega dessa estrutura tributária deformada e burocrática”.

    O então presidenciável Ciro Gomes – hoje vigoroso defensor de Lula lá - disse que "a CPMF arrecada R$ 9 bilhões/mês, mas todos sabem que a saúde tem piorado. Pobreza não se enfrenta com impostos, mas com distribuição de renda".

    O atual Senador Paulo Paim, atualmente intransigente defensor, declarou em discurso na Câmara em 1999:“que imposto daninho esse! Listei 22 motivos pelos quais o Partido dos Trabalhadores votou contra”.

    O Ministro do Planejamento, deputado Paulo Bernardo, opinou na época: "quanto a CPMF, não me convenço de sua necessidade, nem de que possa ter algum caráter positivo".

    O deputado Arlindo Chinaglia, Presidente da Câmara dos Deputados fez um discurso em que disse: “queremosalertar para o fato de que o Partido dos Trabalhadores votou contra a CPMF e não temos nenhum motivo para alterar sua opinião”.

    Na votação, 46 dos 47 petistas presentes à sessão foram contrários ao imposto. Lula antes e o PT puniram com suspensão o deputado Eduardo Jorge (SP) por ter votado a favor da CPMF.

    A CPMF que seria provisória, já foi prorrogada quatro vezes (1997, 1999, 2002 e 2003) e arrecadou 203 bilhões de reais.

    Lembro-me da Revolução Francesa, quando criou um imposto provisório sobre as janelas das casas. Victor Hugo protestou, escrevendo que Deus dera o ar de graça, mas o Governo cobrava por ele, enquanto as pessoas moravam em casas escuras e fechadas. A semelhança existente com a atualidade brasileira é que a CPMF – cobrada para melhorar a saúde – não acabou as “filas” do SUS, nem assegura o mínimo de dignidade à saúde nacional.

    Lula antes denunciava tudo isto, até com certa razão. Por que Lula lá diz hoje o contrário, arrecada a CPMF e a saúde continua de mal a pior?

    Afinal, quem o povo elegeu: Lula antes, ou Lula lá?   (Seu Comentário)

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