Opinião

• 23 de Maio de 1998

  AS CRIANÇAS COMEM O QUÊ?

  

   

   

   

  AS CRIANÇAS COMEM O QUÊ?

   O que há por trás de cestas básicas do Governo Federal ? É preciso saber. Ir ao fundo. Por que não são aproveitados os alimentos nativos existentes nos municípios e adquiridos nas comunidades ? Isto traria benefícios para o comércio local e até geraria empregos. Dr. Dario é médico e prefeito de São Miguel. Homem de bem, dedicado ao seu povo, comenta revoltado que as cestas com 10 quilos de alimentos (algumas com 7), tudo carboidratos (sem proteína), não atendem famílias de cinco pessoas durante uma semana. Em São Miguel, a Prefeitura comprou e distribuiu mais de 4000 cestas com 17 quilos de comida, sendo necessárias duas no mês para alimentar uma família de cinco membros. Qual o critério dietético para o Governo distribuir cestas de 10 quilos, a base de fubá (milho moído, massa de péssima qualidade), "arroz de terceira" e feijão que não cozinha ? Naturalmente, o fundamento será emprego e renda. Isto não se discute. Porém, a fome não espera e o cidadão merece respeito.

  AS CRIANÇAS COMEM O QUÊ?

  Outra pergunta: quais os tipos de alimentos das atuais cestas para alimentar as crianças ? Em São Miguel, a Prefeitura teve o cuidado de incluir leite em pó e arrozina (que pode ser substituída por Maizena). A Comunidade Solidária já anuncia a inclusão do leite. Mas, as cestas destinadas aos nordestinos da seca continuam sem comida para a população infantil.

  EXPLORAR O SUOR HUMANO

  No Rio Grande do Norte, o Governo Estadual está querendo deslocar pessoas para trabalhar na barragem de Santa Cruz. Isto pode transformar-se na exploração em vão do suor humano. Barragem é obra mecânica, tratores, máquinas, onde se exige o mínimo de qualificação do trabalhador. O flagelado da seca deixará de cuidar da sua família, da roça, de quebrar pedra e outras atividades típicas, para sair de casa e enfrentar a incerteza da distância. Por que não oferecer-lhe emprego nas proximidades de seu habitat ? Por que não assegurar-lhe direito de opção ? Por que não iniciar programa agro-industrial, conjuntamente com as Universidades estaduais, mobilizando pequenos e médios empresários agrícolas, sindicatos e trabalhadores?

  APOSENTADO TEM ESTÔMAGO

  Paulo Amaro, ex-prefeito de Jardim de Angicos, denuncia que as famílias de aposentados recebem a cesta com quantidade reduzida. Trata-se de discriminação contra os aposentados. Será que os familiares de aposentados não têm estômago ?

  Enquanto isto, continua no ar a pergunta se as cestas estão levando mesmo alimentos para os flagelados ou escondem outras coisas por trás delas? ... E as crianças da seca, afinal, comerão o quê?

  Coluna Publicada aos domingos
  nos jornais O POTI e GAZETA DO OESTE
  Natal e Mossoró - Rio Grande do Norte

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