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Opinião

  • 30 de Setembro de 2000

    A MORTE DA DEMOCRACIA

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    A MORTE DA DEMOCRACIA

    Hoje, o dia D. A hora de escolher Prefeitos e vereadores. Certamente, o momento mais importante da democracia representativa. Trata-se de eleger prefeitos e vereadores, justamente quem fica mais perto do cidadão, contribuindo diretamente para oferecer melhor qualidade de vida às pessoas.

    Acompanho desde 1960 as lutas eleitorais do país. A eleição de 98 e a de hoje foram dois espetáculos sui generis para a democracia brasileira. Há dois anos, permitiu-se em vários Estados, que se vendesse o patrimônio público às vésperas de uma eleição e o dinheiro  gasto sem qualquer critério. E mais: os mesmos governadores-vendedores, regra geral, gastaram o dinheiro em benefício pessoal para permanecerem no cargo. No final, tutti bona gente, nada aconteceu, salvo o criminoso desfalque no patrimônio público. Foi uma página triste na história da vida pública brasileira.

    Este ano, mais de 5.000 prefeitos puderam candidatar-se, sem sair do cargo. Nos municípios interioranos eram melhores as condições de  fiscalização eleitoral. Nas capitais, pela dimensão das cidades e a pobreza urbana, o prognóstico é de 80 a 90 por cento de vitória dos atuais prefeitos. Também, pudera. A máquina pública, salvo exceções, entrou a todo vapor, no assistencialismo e empreguismo, sem compostura e sem limites. A esperteza e a mediocridade ocuparam o lugar da competência. Alguns candidatos, sempre à frente das pesquisas a serviço do poder e aconselhados por assessores auto-intitulados de “eficientes”, esconderam-se dos debates e privaram o povo de conhecer as suas idéias e propostas. Espetáculo triste e deprimente, mas incrivelmente verdadeiro. Aqueles que se prepararam para disputar a eleição através do debate, convencimento e criatividade foram derrotados de véspera pela força do dinheiro e do poder absoluto das Prefeituras. Tudo sob as vistas da população, em pleno século XXI.

    Deus queira que o povo esteja acordado e ocorram muitas “zebras”. Certamente será difícil, porque a massificação há meses das pesquisas pagas na “boca de cofres oficiais” criou o fato consumado da vitória irreversível, tornando impossível reverte-lo, salvo reações populares como em Fortaleza, Aracajú e outras. Em qualquer hipótese, será preciso revogar a reeleição, sem o afastamento do cargo. Porque, se os exemplos de 1998 e 2000 se repetirem no futuro, fatalmente significará a sentença de morte da democracia brasileira.

    ACONTECE

    Previsão
    As eleições de hoje no Rio Grande do Norte, segundo previsões, poderá ter o seguinte quadro de vitórias por Partido: PMDB – 45 prefeitos; PPB – 40 prefeitos; PFL – 25 prefeitos; PL – 15 prefeitos; PSDB – 11 prefeitos; PSB – 4 prefeitos; PPS – 3 prefeitos; PDT – 1 prefeito. Em 22 municípios a eleição é considerada indefinida. Em Grossos o PT disputa com chances.

    Surpresas
    Com a urna eletrônica usada pela primeira vez em todo o Estado poderão ocorrer surpresas. Os analistas acham essa hipótese pouco provável, em razão da falta de dinheiro generalizada que “brecou” as campanhas e reduziu a comunicação entre o eleitor e o povo.  Nesse jogo, as lideranças tradicionais levam vantagem por serem mais conhecidas.

    Partidos
    Na pratica, o quadro estadual aponta como partidos sólidos, com base definida para 2002, o PMDB e o PFL. Os demais sofrerão fatalmente as oscilações das composições futuras, tendo em vista as perspectivas para a eleição de Governador.

    Mudanças
    O PPB e o PL, somando com certeza mais de cinqüenta prefeitos, serão os partidos com maiores possibilidades de mudanças em seus quadros. O crescimento de ambos deveu-se a naturais acomodações municipais e, sobretudo, as adesões da última eleição de governador. Nesses dois partidos, encontram-se abrigadas lideranças históricas dos grupos tradicionais da política potiguar (Maia e Alves), com grande maioria de ex-partidários do Senador José Agripino.

    Polarização
    O exame das prévias confirma tendência à continuidade da polarização na política estadual. Na “pescaria” futura o grupo Maia poderá ser o maior beneficiário, trazendo de volta muitos ex-correligionários. Quem duvidar veja o que aconteceu nesta campanha em Caicó, onde se acenava a hipótese de uma “composição” das lideranças locais e a disputa inesperada eliminou totalmente esta hipótese.

    Opinião pessoal
    Pessoalmente, desejaria ver um RN com maior grau de igualdade de oportunidade no campo partidário. Não significaria desprestigiar as lideranças atuais, até porque inegavelmente elas têm serviços prestados. Porém, analisando Estados como Paraíba, Pernambuco, Ceará, Piauí e outros, percebe-se o surgimento de novas opções, ao contrário do nosso, aumentando o rol de escolha, com o apoio dos próprios líderes.

    Critério cruel
    A abertura na política do nosso Estado somente ocorrerá, quando os líderes das facções em disputa eliminarem o cruel critério, de que para aspirar uma disputa majoritária (Prefeito, Governador ou Senador) o candidato precisa do pré-requisito de aparecer e estar bem nas pesquisas. Como alguém pode ser apontado em pesquisa, feita muito antes da eleição, se o povo percebe que o seu grupo não o lançou, nem o apóia ?  O autocandidato no Rio Grande do Norte, com a polarização existente, será sempre um natimorto.  Este raciocínio não se aplica às disputas proporcionais, onde os candidatos dependem de si próprio, salvo para acesso aos partidos.

    Coluna Publicada aos domingos
    nos jornais O POTI e GAZETA DO OESTE
    Natal e Mossoró - Rio Grande do Norte


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