Opinião
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26 de Agosto de 2000
LIÇÕES DO TIO SAM (II)
LIÇÕES DO TIO SAM (II)
Los Angeles, California – Caso alguém fechasse os olhos no monumental “Staples Center”, durante a última Convenção do Partido Democrata e ouvisse os discursos e propostas não saberia se estava numa Convenção de Democratas ou Republicanos. Na atual campanha norte-americana, o grande esforço dos dois maiores partidos é não parecerem consigo mesmo.
Os Democratas assumiram o discurso republicano, a começar pela indicação do candidato a Vice-Presidente, Senador Joseph Lieberman, duro crítico de Bill Clinton, defensor ardoroso de menos impostos, descendente de judeus, um moralista ortodoxo, que não faz campanha aos sábados (ele não compareceu em 98 à Convenção que o indicou para o Senado, porque era sábado e se afastará da atual campanha nos três feriados judeus anteriores a 7 de novembro, dia da eleição). George W. Bush, antes da escolha de Lieberman, comentou: “essa seria a melhor escolha de Gore, mas não é a que ele vai fazer”. Para surpresa geral, Gore a fez numa decisão solitária. Contrariou toda a sua assessoria , principalmente Clinton, cuja preferência era pelo Senador Bob Graham, da Florida. Este foi o tudo ou nada dos democratas. Talvez, o objetivo tenha sido mobilizar recursos e ganhar a mídia americana, em grande parte nas mãos dos judeus. O risco é altíssimo. Comenta-se que boa fatia dos eleitores consultados não se opõe ao direito de um judeu ser candidato a mandato público, mas não aceitam que ele possa ser substituto eventual do Presidente da República.
PONTO INTERMEDIÁRIO
A grande lição é que a terceira via de Tony Blair está também sendo buscada nos Estados Unidos. Os partidos pretendem atingir um ponto intermediário entre a prioridade econômica republicana e a prioridade social dos democratas. Daí porque, os republicanos falaram espanhol como nunca na sua Convenção em Filadelfia, escalando a mexicana Columba, cunhada de Bush e seu sobrinho de cor parda, com cara de latino, para saudarem os convencionais em castelhano e prometerem ampliar o serviço de assistência social aos imigrantes. Os hispânicos são tradicionalmente democratas.
Ao falarem a mesma linguagem dos democratas, os republicanos tentam dar o “troco” a Clinton, que tomou “na marra” as principais bandeiras e propostas daquele Partido. É que em 1994, o Presidente Clinton estava politicamente no “fundo do poço”, as vésperas da reeleição. Na época, ele perdera totalmente o apoio na Câmara e no Senado. Ficou isolado.
O que fez Clinton? Contratou um republicano, como seu assessor especial, especialista em “marketing” político – Sr. Richard Morris. A sua missão seria “reinventar” o Presidente democrata, que precisava ganhar a eleição.
A VITÓRIA DE CLINTON
Morris, profundo conhecedor da tática dos republicanos, levou Clinton à vitória. Ele trouxe para o palanque democrata a linguagem conservadora de austeridade nos gastos e o equilíbrio das contas públicas como único meio de construir avanços sociais definitivos. Quem não se lembra do placar instalado na Times Square em Nova York, mostrando o crescimento a cada segundo da dívida interna americana ? Eliminar o déficit do Tesouro era o discurso dos conservadores republicanos. Clinton tomou esta bandeira, zerou o déficit e hoje já existe superávit interno nas contas públicas dos Estados Unidos, o grande orgulho dos democratas. Para alcançar o sucesso administrativo de hoje, Clinton após a sua reeleição em 95, teve a coragem de enfrentar a impopularidade, aumentar impostos, reduzir investimentos sociais e conter o consumo. Ele primeiro estabilizou a economia para depois atuar no social, justamente aquilo que os democratas- a esquerda americana - historicamente discordavam dos republicanos. Talvez por isto, o cidadão comum afirme hoje, que não existe grande diferença entre Gore e Bush. E é por ai que Bush pode ganhar a eleição.
Morris, o herói da reeleição de Clinton, está no ostracismo. Foi encontrado com uma prostituta num motel de Washington e acabou demitido da Casa Branca. Para salvar-se, faltou-lhe, com certeza, um mandato ou uma boa advogada...
QUEM GANHA A ELEIÇÃO?
Quem ganha a eleição? A resposta dependerá do poder de Clinton transferir votos para Al Gore; ou, da capacidade de Bush transmitir ao povo a certeza de que com ele a prosperidade atual continuará, ou, do desejo moralista de punir Clinton por ter mentido no caso de Monica Lewisnki. A favor de Bush, argumenta-se a sua experiência administrativa vitoriosa como Governador do Texas. Ele continuaria a fazer o que está fazendo hoje– administrar. Al Gore, ao contrário, fica na incômoda posição de explicar discordâncias em relação a Clinton, de quem deseja receber o bônus dos votos, mas condena as idéias de liberdade sexual, sobretudo na lei do aborto, onde o Presidente defende o direito da mãe abortar em qualquer fase do crescimento do feto. A impressão é de que, se o americano sentir segurança para o seu bolso, optará por Bush. Caso perceba riscos na estabilidade atual da economia, elegerá Gore. Ainda é cedo para antecipar prognósticos. Mas, mesmo com o empate técnico das últimas pesquisas, já se nota ligeira vantagem de Bush, num país construído a base dos dogmas Deus, trabalho e família e onde a lição histórica é de que um Partido, com mais de oito anos de Governo, cheira a poder demais....
Coluna Publicada aos domingos
nos jornais O POTI e GAZETA DO OESTE
Natal e Mossoró - Rio Grande do Norte
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