Opinião
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12 de Outubro de 2002
CONVERSA COM VITOR
CONVERSA COM VITOR
Pensei muito sobre o futuro das crianças brasileiras. Ontem foi o dia em homenagem a elas. Afinal, criança e futuro são sinônimos. Parei numa esquina de Natal e dentro do carro puxei conversa com um menino. (Antes confirmei que ele não me reconhecera).
Um garoto de 11 anos, chamado Vitor. Perdeu o pai ao nascer e mora com a mãe na periferia de Natal, com quatro irmãos e três irmãs. A ocupação dele é vigiar carros. Recebe de gorjetas 15 reais em dias bons; cinco/seis reais em dias de semana. Muitos não dão nada. O irmão mais velho tem 22 anos e está desempregado. A mãe trabalhava como faxineira numa empresa e foi demitida. Agora, faz o mesmo serviço em apartamentos residenciais, sem vínculo de emprego. Ninguém de sua casa tem emprego com carteira assinada. Vitor me transmitiu a sensação de quem “vive em cima de um fio de navalha”, em perigo permanente.
“Você sabe que 12 de outubro é o dia da criança?”. Respondeu que sabia, porque muita gente comprava nas lojas presentes para os filhos. “E você se alegra neste dia?”. Diz Vitor: “fico muito alegre, porque neste ponto pára mais carros e eu ganho mais gorjetas”. Indaguei: “alguém já deixou de pagar a sua gorjeta?”. E ele de pronto declara: “Agora mesmo, um homem ligou o carro, saiu, gritei para dizer que tinha “pastorado” o carro dele e ouvi quando ele disse: não tenho trocado, criança é prá ficar na escola”.
Com a minha vocação de repórter, fui mais longe na conversa com Vitor.
- - “Você já esteve na escola ?”
Já. Mas tive de sair da escola para ganhar alguma coisa e comer.
- - “Mas na escola, você pelo menos
comia a merenda escolar...”.
O senhor é que pensa. As pessoa que trabalhava na escola levava quase toda merenda prá casa deles. Diziam que ganhava pouco.
- - “Você gosta do que faz?”.
Não. Eu ganho pouco e ouço muito as pessoa dizer que não dão dinheiro a menino.
- - “O que você deseja na vida?”
Emprego prá mim, minha mãe e meus irmãos.
- - “ Qual a sua opinião sobre a
eleição de domingo passado?”
O senhor fala do pessoal do Lula?
- - “Por que de Lula?”
Porque onde moro quase toda noite vão lá pessoas desse candidato, juntam gente, conversam e pedem voto.
- - “Conversam o que?”
Sei lá. Dizem que os ladrões vão prá cadeia. Que vai ter comida, remédio, emprego prá gente. Que tudo vai mudar.
- - “O que mais?”
Que quem não é Lula é contra nós, contra o empregado, quer acabar com nós, tira direito da gente e muita coisa. Eles mostram até fotos dessas pessoas “ruim”. Deixam um número com a gente e pedem prá ninguém esquecer”.
- - “Eles pediam para votar só no
Lula?”
Não. Eles diziam que se devia votar de cima abaixo nos amigos do Lula. Os outros não prestam.
- - “E o povo votou assim?”
Ah, isto eu não sei. Eu não voto.
Diante do meu carro estacionado, passa um amigo e me aborda. Tive que concluir o “papo” com Vitor. Antes, lhe perguntei:
- - “Você, um menino de 11 anos, o
que espera dessas pessoas que foram onde você mora pedir votos?”.
“Eu espero que eles falem a verdade. Que a minha vida, da minha mãe e de meus irmãos melhore”.
- - Você sabe que governar é muito
difícil?”
“Sei nada dessas coisas. Eu só sei “pastorar” carro. E nunca disse a ninguém que fazia mais que isto”.
- - “E se você falasse com os dois
candidatos à Presidente da República, o que pediria a eles no seu dia – o dia
da criança?”
Vitor ri e dispara: “Ah... moço. Eu pediria um emprego prá mãe e que eles não enganasse a gente. O pobre já sofre muito”.
Com certeza, o sentimento de Vitor é hoje o da maioria do povo brasileiro.
ACONTECETalento potiguar
A pesquisadora potiguar Leide Câmara escreveu obra inédita e de valor inestimável para a nossa cultura. O “Dicionário da Música do Rio Grande do Norte” é um trabalho de pesquisa no melhor nível. Por isto, acaba de receber da Academia Paulista de História, em São Paulo, o prêmio nacional da melhor obra literária voltada para a música em 2001.13° salário
Recebi um telefonema da Caixa Econômica Federal oferecendo empréstimo, com juros baixos, para antecipar o 13° salário. A CLT atual proíbe que uma empresa pague, por exemplo, o 13° mensalmente; ou coloque trimestralmente parcela proporcional numa poupança em favor do trabalhador. Somente a atualização da CLT, que tem mais de 60 anos de vida, evitará que o trabalhador pague juros a Bancos para antecipar o seu 13°. A luta em favor do trabalhador deve ser para acabar estes empréstimos com juros, ao invés de propagar a inverdade criminosa e a chantagem eleitoral, de que a flexibilização da CLT retiraria 13° e outros “direitos constitucionais do trabalhador”.Obrigado
Obrigado a Deus e aos 97.425 norte-rio-grandenses que acreditaram na minha boa fé e trabalho permanente em favor do RN e do Brasil. Fui reeleito para a Câmara Federal - o mais votado do PFL no RN. A eleição mais difícil de minha vida pública. Enfrentei dificuldades, quase insuperáveis. Já comecei a escrever as minhas memórias e um dia serão conhecidas. Tive mais votos do que o esperado. A minha conclusão é de que vale a pena trabalhar e lutar, embora o trabalho de um parlamentar seja muito difícil de ser conhecido pelo eleitor. A única arma eleitoral que tinha era divulgar o que fiz e o reconhecimento alcançado fora do Estado. Usei revistas em quadrinhos e jornal de campanha como forma de divulgação. E deu certo. Mais uma vez: obrigado.Coluna Publicada aos domingos
nos jornais O POTI e GAZETA DO OESTE
Natal e Mossoró - Rio Grande do Norte - - “Você já esteve na escola ?”
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