Opinião
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29 de Novembro de 2003
ALCA PARA QUEM?
ALCA PARA QUEM?
Está nas manchetes mais um lance de “marketing inteligente” do governo brasileiro. O país é levado a comemorar uma futura “ALCA ligth” (ALCA leve) (Área de Livre Comércio das Américas). Concordar com a ALCA “light” seria eliminar o suposto perigo de entregar o país aos estrangeiros e manter intocável o bom negócio de calçado dos gaúchos e paulistas, o frango dos catarinenses e paulistas, o aço de São Paulo, o suco de laranja dos sulistas e mais alguns produtos nacionais competitivos. Até porque, quem defende a ALCA “light”, nunca esquece de lembrar a meia verdade de que os países ricos cresceram, por terem protegido as suas industrias e o seu comércio. A realidade é que tal proteção somente veio depois do crescimento e apenas alguns setores.
COMÉRCIO LEVE
ALCA “light” não foge a interpretação de comércio leve, sem definição. Assemelha-se no futebol ao torcedor “light”, ao amor “light”, a amizade “light”, quer dizer, nem carne, nem peixe. Tudo cabe dentro desse “light”. No comércio, faz “dieta ligth”, quem já se desenvolveu e passa a selecionar parceiros. Nunca, quem está num esforço de crescimento como o Brasil, ainda com reduzidas reservas de “calorias econômicas”.
Dirão alguns, com ufanismo “verde amarelo”, que “light” significa “patriotismo”, defesa dos “nossos interesses estratégicos”, da nossa soberania, a luta heróica pela “reserva de mercado” e proteção dos produtos que somos melhores etc etc. Discurso do agrado dos saudosistas, dos que falam com o sotaque do Estado “todo poderoso” (a esquerda e a direita aqui se aproximam muito), em que comércio livre é uma ilusão, leva sempre a exploração, a desigualdade social e econômica entre as pessoas. O único caminho para estes, será a presença onipotente do Estado intervencionista, cujo exemplo maior é a tal “ALCA light”.
COMUNISTAS ABREM
Comércio se faz com entendimento, vendendo e comprando. Comércio é movimentação de bens e serviços, gerando riquezas, empregos e elevação de renda. Qual o lugar do mundo em que o comércio se tornou livre e o país empobreceu ? Não conheço nenhum. O que vejo é a Coréia comunista, o Vietnã do Norte, todos se abrindo, mesmo, ainda, comunistas. Estive esta semana em Cartagena, na Colômbia e lá estavam reunidos, por coincidência, vários países do Caribe, querendo comércio livre, inclusive Cuba. Claro que a riqueza gerada pelo comércio, quando má administrada internamente pelos Governos, não traz nenhum benefício social. Quem traz a justiça social são os Governos nacionais e não a economia ou o comércio livres. E para existirem Governos competentes, com visão global, são fundamentais a liberdade econômica e a escolha popular dos melhores e não dos que prometem “milagres”. Não existe outra saída.
FORTE OU FRACA
Talvez o leitor indague, se defendo a liberdade comercial total e irrestrita na ALCA. Não, nem ALCA “light”, nem ALCA “strong” (forte). Sou a favor da ALCA entendida como um simples acordo comercial. Para isto, não tem que ser “leve” ou forte, mas apenas “uma ALCA negociada em duas mãos”, interna e externamente. Não se pode, por exemplo, enganar a opinião pública, combatendo subsídios agrícolas nos EEUU e, ao mesmo tempo, defender acordo de livre comércio com a Europa, onde o protecionismo na agricultura é muito maior do que nos EEUU. Não se pode “proteger” calçado, frango, suco de laranja e companhia limitada, deixando a margem o camarão e as frutas tropicais nordestinas, por exemplo. Caso isto permaneça, Brasil caminhará na ALCA para dobrar-se a “lobby” internos poderosos e proteger alguns setores do mercado nacional, todos eles situados no eixo Sul e Leste. Onde ficam os interesses do Norte e Nordeste ? Ainda por cima, a pregação oficial na reforma tributária de acabar com a “guerra fiscal”, uma das últimas saídas para atração de capitais para as regiões mais pobres. O Norte e Nordeste são filhos de Deus e merecem, no mínimo, que se crie, em compensação, o MERCONORTE, permitindo a abertura de novas fronteiras comerciais para estas duas regiões.
NORTE & NORDESTE
Afinal, a ALCA será negociada para quem ? Os produtos brasileiros, competitivos e protegidos serão apenas aqueles citados na ALCA “light” ? O Presidente da República é nordestino e sabe que o norte e nordeste têm também o que defender. E não fazê-lo, será aprofundar, ainda mais, o fosso regional, que destrói o federalismo, aprofunda a miséria e a exclusão social.
AMIGO E PASTOR
A Arquidiocese de Natal é abençoada por Deus. Sai D. Heitor Sales e entra D. Matias de Macedo.
Tive o privilégio de conviver com ambos, durante anos. Comecei a minha vida, ainda garoto, trabalhando no Serviço de Assistência Rural (SAR), dirigido por D. Eugênio Sales.
D. Heitor, sempre tranqüilo, afável, educado, proporcionava excelente convivência. O jornalista português Manoel Chaparro, ao chegar à Natal para dirigir A ORDEM em 1961, reunia um grupo para conversas freqüentes e lá sempre estavam D. Heitor, Padre Perestrelo (pároco de Mãe Luiza), D.Costa e outros. Depois, fui colega de D. Heitor no Instituto de Ciências Humanas, Letras e Artes da UFRN. Não me sai da memória a sua imagem como o “bispo dos protomártires” de Uruaçu e Cunhaú, na manhã fria de Roma, em março de 2000. Vestido com casula verde sobre alvas e estolas brancas, ele participou do ofício da Santa Missa em plena Praça de São Pedro. Ao sair da Arquidiocese de Natal recebe a admiração e o respeito de todos.
D. Matias Macedo, novo bispo da Arquidiocese de Natal. Não o via há mais de 30 anos. Encontrei-o ao deixar, na companhia de Abigail, a capela romana, onde D. Eugênio Sales oficiara missa solene, no dia seguinte a sagração dos protomártires. É um grande amigo que tenho, desde a época da ação católica, em que eu militava na Juventude Estudantil Católica e ele, assistente da Juventude Agrária Católica. Recordamos, em instantes, o trabalho do movimento de Natal, liderado por D. Eugênio Sales, na década de 60.
D. Matias é um homem de Deus. Humilde, simples, nunca perdeu o perfil do menino pobre, que saiu de Santana do Matos para estudar no Seminário S. Pedro em Natal. Cresceu na Igreja por vocação e mérito próprio. Natal ganha um amigo e um Pastor.
Coluna Publicada aos domingos
nos jornais O POTI e GAZETA DO OESTE
Natal e Mossoró - Rio Grande do Norte
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