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Opinião

  • 29 de Maio de 2004

    BRASIL NO MÉXICO

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    BRASIL NO MÉXICO

    Guadalajara, México (Via Internet) - O senador Enrique Jackson, presidente do Senado do México, convidou-me para entregar em nome dos Parlamentos latino-americanos e do Caribe, um documento histórico aos Chefes de Estado da América Latina e da Europa, reunidos na cidade de Guadalajara. Tudo começou em março deste ano, num encontro de Deputados e Senadores das Américas e Europa, na cidade de Puebla no México. Ali foram aprovadas oito sugestões para serem entregues aos Presidentes e Primeiros Ministros, nesta Reunião de Cúpula de Guadalajara. Coube a mim, oficialmente, fazer esta entrega, quinta-feira passada.

    Tremi nas bases para cumprir a missão. Afinal, falar em nome da América Latina, perante todos os chefes de Executivo europeus e latino-americanos, era demais para um potiguar, eventualmente na presidência do Parlamento Latino-Americano. Convidado oficial do governo mexicano, cheguei na véspera (quarta) à bela cidade de Guadalajara, cenário desse acontecimento político. O sistema de segurança era dos mais severos. Até para sair do quarto do Hotel avisava antes. Mesmo assim, tive a sensação de estar no Brasil, tal a simpatia dos mexicanos ali radicados. Todos lembram, no primeiro contato, o Brasil tri-campeão na IX Copa do Mundo em 1970. Uma equipe que saiu batendo um a um os seus adversários, não cedendo nem a um empate. Dos seis jogos realizados, cinco foram na cidade de Guadalajara, no estádio Jalisco (desejei conhecer, mas não houve tempo). Após a eliminação do México, a população torceu pelo Brasil. Ainda falam no jogador Brito. Nem me lembrava dele. Foi considerado, na época, pela Organização Mundial de Saúde o atleta de melhor preparo físico. Zagalo foi o técnico, após a tumultuada saída de João Saldanha, que propagara até a impossibilidade de Pelé jogar, por problema na visão.

    BRASIL TRI-CAMPEÃO

    Testei a memória dos habitantes de Guadalajara sobre a passagem do Brasil em 70. No almoço que antecedeu a reunião de cúpula dos Chefes de Estado, onde entreguei o documento parlamentar, conversei com um grupo de "mariachi vargas de Tecaltilán", que cantava para os convidados. Todos de meia idade, sabiam quase tudo do Brasil "tri-campeão". Repetiam sempre: "O Brasil é muito querido aqui". Recitaram em prosa e verso o ataque brasileiro da época: "Jairzinho, Tostão, Pelé e Rivelino". Destacaram a "garra" de Gerson. Do nosso primeiro jogo (vitória sobre a Tchecoslováquia de 4 x 1), permanece a recordação melancólica do gol que não houve. Aquele em que Pelé chutou no meio campo e a bola não entrou. Falam também no jogo do século: Brasil x Inglaterra. Tostão como um maestro driblou vários ingleses; Pelé livra-se dos zagueiros e alcança Jairzinho, que como um “furacão” dá a vitória brasileira. Os habitantes de Guadalajara brincaram o carnaval no final da partida. Romênia, Peru e Uruguai foram os adversários seguintes do Brasil. Mais uma vez, Guadalajara assistiu as nossas vitórias, inclusive aquela chamada de “enterro do fantasma” contra o Uruguai (semifinal). Havíamos perdido de 2 x 1 para o Uruguai no final da Copa de 50, em pleno Maracanã. Em Guadalajara, ganhamos de 3 x 1. A cidade chorou quando o Brasil partiu para a cidade do México, onde no estádio Azteca, tornou-se tri-campeão do mundo, vencendo a Itália por 4 x 1.

    O PAPA DE NOVO

    Casarios coloniais emoldurados de azulejos ibéricos, ruas tortuosas ainda pavimentadas com pedras, mistura de arquitetura gótica, retilínea e moderna formam o retrato da Guadalajara, que abrigou nesta semana Chefes de Estado da Europa e América Latina. O Presidente Lula chegou, procedente da China. Logo após patrocinar evento político desse nível, Guadalajara se prepara para receber de novo o Papa João Paulo II, em outubro próximo, quando encerrará o 48° Congresso Eucarístico Internacional. Há o temor de que a saúde papal impeça que ele visite o México pela sexta vez.

    Com a população majoritariamente católica, Guadalajara acolheu João Paulo II, pela primeira vez, em janeiro de 1979. Na oportunidade, ele visitou a pé o bairro de Santa Cecília, o Seminário Maior e a Catedral de Guadalajara, monumento histórico-religioso que pude ver e sentir. No estádio Jalisco, falou sobre direito dos trabalhadores. João Paulo II voltou à cidade, em janeiro de 1999, quando fez a entrega aos Bispos da Encíclica Ecclesia in América.

    A HORA SOLENE

    13 horas (16 horas no Brasil) da última quinta, 27. Forte esquema de segurança filtrava o acesso de convidados especiais, na entrada do Instituto Cultural Cabanas, localizado na zona central de Guadalajara. Reunidos para almoço, no pátio 14 do Instituto, os Presidentes, Primeiros Ministros e Chanceleres de todos os países da União Européia e latino-americanos. Protocolo rígido controlava até os segundos. Estava ciente de que dispunha apenas de três minutos para falar e entregar aos Chefes de Estado o documento dos Parlamentares da América Latina e Europa, os quais representava naquele instante.

    Concederam-me a palavra. Saudei a todos. Agradeci ao Senador Enrique Jackson, presidente do Senado mexicano, a honra da escolha do meu nome. Embora acostumado a falar em público, o momento era solene demais. Respirei fundo e cumpri a missão. Anunciei com ênfase as oito sugestões dos Parlamentares aos Chefes de Estado presentes. São elas:

    1.      Criação de uma “Assembléia Transatlântica EuroLatino-Americana”composta de parlamentares das duas regiões;

    2.      Aprovação da “Carta Euro-Latino-Americana” para a paz e a segurança;

    3.      Ampliação da agenda política bi-regional com prioridade para as questões sociais;

    4.      Criação de zona euro-latino-americana de livre comércio, até 2010;

    5.      Política de cooperação e desenvolvimento mais aberta e solidária com a América Latina, sobretudo em relação ao pagamento da dívida externa;

    6.      Criação de Fundo de solidariedade bi-regional como contribuição concreta para reduzir as desigualdades sociais;

    7.      Dar apoio e impulso aos processos de integração regional na América Latina com a criação da “Comunidade Latino-Americana de Nações” (CLAN);

    8.      Diálogo permanente, construtivo e eficaz em matéria de migração.

    Arranjei tempo para dizer aos governantes, que nem sempre é bem recebida a interferência parlamentar nas decisões dos Executivos. Todavia, entre os Presidentes e Primeiros Ministros, certamente estavam ex-parlamentares conscientes de que o legislador dispõe “das ferramentas para ajudá-los nessa imensa tarefa de enfrentar o desafio de construir um mundo melhor, mais justo e mais humano”. 

    Percebi a boa receptividade às minhas palavras pelos cumprimentos recebidos ao final, inclusive da delegação brasileira. Saí de Guadalajara com a alegria de quem cumpriu missão altamente honrosa. E também com a sensação de que aquela cidade, carinhosa e amiga, é um pedaço do Brasil no México.

    Coluna Publicada aos domingos
    nos jornais O POTI e GAZETA DO OESTE
    Natal e Mossoró - Rio Grande do Norte

     


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