Opinião
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22 de Maio de 2004
CONVERSA COM FHC
CONVERSA COM FHC
"Presidente, então a vida está melhor?" – perguntei ao Presidente Fernando Henrique Cardoso, na última quinta, quando o recebi na sede permanente do Parlamento Latino Americano (PARLATINO) para almoço. Ele respondeu: “tranqüilidade e mais oportunidade de estudar". Para mim, deixou a dúvida se tinha ou não saudades do poder. Recebi-o à porta do edifício, na companhia do deputado Bonifácio Andrada, por mim indicado Presidente da Comissão de Educação e Cultura do Parlatino e o meu filho Ney Júnior. Chegou ao lado de seguranças, mas sem estardalhaço.
Achei-o mais grisalho, porém muito saudável. Aliás, não lembro de tê-lo visto antes, senão com um sorriso e bom humor. É o próprio perfil do otimista na política. No elevador, lembrou que o filho de Bonifácio Andrada fora seu auxiliar como Advogado da União. Ney Júnior recordou que como fundador e presidente no RN do "PFL Jovem" estivera no Palácio do Planalto, quando o saudou como Secretário Geral nacional daquele movimento. FHC demonstrou grande entusiasmo com as novas gerações militantes na política.
Fomos para o terceiro andar da sede do Parlatino. Lá estava pequeno grupo, que convidei para conversar, basicamente, sobre três eventos futuros do Parlatino: a Conferência Parlamentar Latino-Americana de Partidos Políticos e Governabilidade; a "Conferência Parlamentar Latino-Americana sobre a viabilização legislativa das metas do milênio e a "Conferência Parlamentar Latino-Americana sobre Cultura". De forma a preservar a imagem supra-partidária da instituição que presido, fiz questão de convidar o deputado Paulo Delgado (PT-MG), pessoa ligada ao Palácio do Planalto e Diretor para Assuntos Internacionais do PT. Infelizmente, Paulo Delgado não compareceu, alegando força maior.
O "papo" foi informal. Alguém quis comentar assuntos políticos do país. Ele logo fixou os limites: "Estou preocupado em instalar sábado (ontem) o meu Instituto de Estudos Políticos". A propósito do desconfortável horário da cerimônia de instalação (num sábado às 20 horas), esclareceu ter sido o único disponível para Bill Clinton estar presente. Expus, a seguir, a parceria do Parlatino com a OEA, na organização da Conferência de Partidos Políticos e Governabilidade em 14 e 15 de julho próximo, na sede de SP. Veio a tona a preocupação com as oposições na América Latina, que muitas vezes conduzem a ingovernabilidade. A idéia de um "estatuto legal para as oposições" teve o seu apoio. "Governo, partidos e oposição têm que saber até onde podem ir" - disse.
Sobre as metas do milênio fixadas pela ONU e que ele assinou o Tratado em 2001, qualificou de excelente a idéia do debate parlamentar, porque "pouquíssimos políticos conhecem este assunto"– enfatizou o ex-Presidente.
FHC deteve-se na "Conferência Parlamentar sobre Cultura", que o Parlatino realizará em junho com apoio da UNESCO, em SP. Recomendou que "a integração latino-americana deve envolver os intelectuais, os músicos, os poetas, os romancistas, todos que vivem de idéias".
Já na sobremesa, falou-se da escassez de recursos no Brasil. Surpreendentemente, FHC opinou: "dinheiro tem demais, faltam criatividade e competência em projetos viáveis e inovadores. Este é o desafio dos governantes que tenham visão e não sejam paternalistas".
Sabendo que FHC cobra honorários nas suas palestras, anunciei em diálogo registrado pela Jornalista Arlete Salvador (Correio Brasiliense e DN), que iria pedir-lhe algo. Logo precaveu-se: "desde que não sejam emprego, nem dinheiro, estou as suas ordens". Todos riram e completei: "Presidente, desejo convidá-lo para uma palestra na Conferência de Partidos Políticos em julho sobre o tema "como governar na América Latina". Ele aceitou, inclusive sem cobrar honorários para o seu Instituto.
Entreguei-lhe uma placa comemorativa de sua passagem pela sede do Parlatino. Na despedida, propôs que, quando trouxer ao Brasil conferencistas ou professores de renomada, a convite do seu Instituto, poderá leva-los ao Parlatino para falarem também aos políticos latino-americanos. Achei excelente a idéia e nos comprometemos nessa parceria.
ACONTECE
América & Europa – Na próxima quinta e sexta, realiza-se em Guadalajara, México, a “III Conferência de Chefes de Estado e de Governo da Europa, América Latina e Caribe”. Será uma porta aberta às negociações com os europeus. O Parlatino e o Senado do México realizaram reunião preparatória para oferecer sugestões nesta Conferência, a qual estarão presentes o Presidente Lula, o Senador José Sarney e o deputado João Paulo.
Honraria – Por sugestão do senador Enrique Jackson Ramirez, presidente do Senado do México e um dos possíveis candidatos à Presidência naquele país, aprovada pelos demais presidentes de Congressos Nacionais da América Latina e Caribe, fui indicado para falar em nome de todos e entregar aos Chefes de Estado as sugestões dos parlamentares latino-americanos. Sem dúvida, o encargo mais honroso que recebo em toda a minha vida pública e parlamentar.
A VEZ DO AEROPORTO – A briga entre as “gigantes na fabricação de aviões” - Boeing e Airbus – traz benefícios para o RN. Caso o novo modelo da Airbus (A-380), previsto para voar em 2006, domine o mercado mundial, o RN, com a construção do Aeroporto de São Gonçalo (Grande Natal), será na América Latina a principal “base” de aterrissagem dessa nova aeronave, a maior da história da aviação comercial (transporta 840 passageiros, pesa 590 toneladas, dispõe de bar, free shop e até chuveiros). Nos aeroportos atuais este avião não aterrissa.
Presente de Deus – Foi presente de Deus ao RN a nossa posição geográfica. Um avião procedente da Europa, ao pousar em Natal, economiza cerca de 18 minutos de combustível, se comparado com Recife, o segundo ponto geográfico mais avançado da América Latina. Isto significa muita economia em dinheiro para as mega-aeronaves. Aqui desembarcariam os passageiros e as cargas, depois transportados por aviões menores para outras regiões e países. O turismo seria definitivamente o maior negócio do Estado.
Justiça – É necessário o Estado fazer justiça à memória de um dos seus filhos, que se revelou um dos maiores jornalistas latino-americanos. Refiro-me a Jaime Dantas, já falecido. Ele foi correspondente no Brasil da revista “Time” durante 25 anos, o primeiro jornalista brasileiro a trabalhar na imprensa estrangeira. Foi também o primeiro brasileiro a presidir o Clube da Imprensa estrangeira, o “Overseas Press Club”. Trabalhou no JB como correspondente nos EEUU e na Argentina e dirigiu, junto com Calazans Fernandes, os cadernos especiais da Folha de São Paulo. Em 1962, Jaime Dantas abriu as portas do Governo Kennedy para o Governo Aluízio Alves, implantando-se no Estado audacioso programa de educação financiado pela “Aliança para o Progresso”. O educador Paulo Freire foi um dos principais colaboradores desse projeto.
Na geladeira – Está na “geladeira” a maioria das medidas de crescimento anunciadas pelo Governo Federal. Senão vejamos: o crédito para aposentados ainda não regulamentado; R$ 3 bi para saneamento básico não saiu do papel; os R$ 2.7 bi de FGTS para idosos irão para o pagamento de dívidas e não consumo; o primeiro emprego previa 250 mil contratações de jovens por ano, reduziu para 50 mil e não sai a decisão final; recuperação de estradas esbarra em restrições orçamentárias e a “Universidade para Todos” transforma-se em projeto de lei.
Coluna Publicada aos domingos
nos jornais O POTI e GAZETA DO OESTE
Natal e Mossoró - Rio Grande do Norte
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