Marca Maxmeio

Opinião

  • 10 de Abril de 2004

    REFLEXÕES DA PÁSCOA

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    REFLEXÕES DA PÁSCOA

                Nova York, Bagdá, Madri, Istambul, Casa Branca e tantas outras cidades do mundo foram palco recentemente do desamor, do ódio, da vindita, do terrorismo internacional. O cineasta Mel Gibson no seu recente filme “Paixão de Cristo” mostra em tons realísticos, que a humanidade está muito distante do amor, da solidariedade, da paz, da justiça social. As últimas 12 horas da vida de Cristo, reveladas no cinema, dá-nos a noção exata de que a Ressurreição, lembrada na Páscoa deste Domingo, é o exemplo da Verdade, que por não ter sido entendida, transformou-se em Cruz e na angustia do Calvário.  Os atuais estilhaços  das bombas, ceifando vidas humanas, nada mais são do que o simbolismo do prolongamento da Paixão daquele que morreu flagelado para sepultar os defeitos humanos e depois ressurgiu dos mortos, ao terceiro dia, para semear a virtude, o sorriso, a alegria, a paz interior, a amizade e também  sonhos e  recordações.

                Como político, percebo que os dirigentes do mundo têm grande parcela de responsabilidade no drama atual da humanidade, que se retrata também na violência da fome, da exclusão social, da saúde precária, da educação inacessível e tantos outros males idênticos. Hoje – Domingo de Páscoa - o político cristão, onde quer que esteja, na Ásia ou na América Latina, terá que parar e refletir sobre “o sepulcro vazio e a ressurreição do Cristo”.  A convivência  do homem público com a realidade cruel do dia a dia, coloca-o na posição dos apóstolos, que depois da ressurreição tiveram a missão de buscar as pessoas e levar-lhes  mensagem de paz e solidariedade.  Paulo e Pedro foram pregar na Grécia e em Roma; André chegou à Escócia; Tomé foi à Índia; Marcos ao Egito; Madalena atingiu a França; Maria e José foram à Síria e Turquia.

    A ORAÇÃO DE MADRE TERESA 

                Em 4 de fevereiro de 1994, Madre Teresa de Calcutá foi a um café da manhã com os políticos norte-americanos, no elegante Hotel Shoreham, de Washington DC. Lá estavam o Presidente Bill Clinton; o Vice Al Gore, diplomatas de mais de 100 países e centenas de participantes. Madre Teresa fez claramente um desafio aos acomodados detentores do Poder na maior potência mundial, que ouviram calados e contritos.

                Vale a pena recordar alguns trechos da palavra de Madre Teresa de Calcutá naquela “oração aos políticos”. Começou assim:

     “No último dia, Jesus dirá àqueles à sua direita:

    "Venha, entre no Reino. Porque eu tive fome e você me deu comida, eu estava sedento e você me deu bebida, eu estava doente e você me visitou".

    Então Jesus se voltará para aqueles à sua esquerda e dirá:

    "Afaste-se de mim porque eu tive fome e você não me alimentou, eu estava sedento e  você não me deu bebida, eu estava doente e você não me visitou".

    Eles lhe perguntarão:

    "Quando nós o vimos faminto, ou sedento, ou doente e não o ajudamos?".

    E Jesus lhes responderá:

    "Tudo que você deixou de fazer ao menor destes, você deixou de fazer a mim!"

     

    A ORAÇÃO DO AMOR

      Madre Teresa com o objetivo de sensibilizar os presentes, anunciou a todos “a oração que mais lhe surpreendia”. Pediu que a platéia nunca esquecesse:

     

      “Uma vez que  nos reunimos aqui para rezar juntos, eu penso que será bonito se começarmos com uma oração que expressa muito bem o que Jesus quer que façamos. São Francisco de Assis entendeu estas palavras de Jesus. Ele viveu as mesmas dificuldades que nós temos hoje.

     

    Senhor,

    Fazei de mim um instrumento de Vossa paz!

    Onde houver ódio, que eu leve o amor.

    Onde houver ofensa, que eu leve o perdão.

    Onde houver discórdia, que eu leve a união.

    Onde houver dúvidas, que eu leve a fé.

    Onde houver erros, que eu leve a verdade.

    Onde houver desespero, que eu leve a esperança.

    Onde houver tristeza, que eu leve a alegria.

    Onde houver trevas, que eu leve a luz.

     

    A RESSURREIÇÃO

     

    Prosseguiu Madre Teresa:

     

       “E como se isto não fosse o bastante - como se não fosse o bastante que Deus Filho se tornasse um de nós e trouxesse paz e alegria enquanto ainda no útero, Jesus também morreu na Cruz para demonstrar aquele amor maior. Ele morreu por você, por mim, por aquele leproso, por aquele homem morrendo de fome e aquela pessoa desnuda que jaz na rua - não só de Calcutá, mas da África, de todos os lugares.

     

                “Jesus morreu na Cruz porque isso é o que foi necessário para que ele fizesse o bem para nos salvar do nosso egoísmo e pecado. Ele largou tudo para fazer o desejo do Pai, para mostrar a nós que  também devemos estar dispostos a dar tudo para fazer a vontade de Deus, para amar uns aos outros como ele ama a cada um de nós”

            

     

    FAMÍLIA FRÁGIL

                Em seguida, Madre Teresa confessou a fragilidade da família Ocidental, diante de homens e mulheres poderosos:

     

                “Eu fiquei surpresa no Ocidente por ver tantos meninos e meninas jovens dados a drogas. Tentei descobrir por quê. Por que é assim, quando esses no Ocidente têm tantas coisas mais do que aqueles do Oriente? E a resposta era, "Porque não há ninguém na família para os receber". Nossas crianças dependem de nós para tudo: sua saúde, sua nutrição, sua segurança, seu vir a conhecer e amar a Deus. Para tudo isto, eles olham para nós com confiança, esperança, e expectativa. Mas freqüentemente o pai e mãe estão tão ocupados. Eles não têm tempo para suas crianças, ou talvez eles nem mesmo sejam casados, ou desistiram do seu matrimônio. Assim as crianças vão para as ruas e são envolvidas nas drogas, ou em outras coisas. Nós estamos falando de amor à criança, que é onde o amor e a paz devem começar. Estas são as coisas que quebram a paz”.

     

    CAPITALISMO & POBREZA

                Sem negar o progresso e o desenvolvimento, Madre Teresa teve a coragem de abordar a questão da pobreza num local que era o palco do “capitalismo”.

     “Os pobres são pessoas muito grandes. Eles podem nos ensinar tantas coisa bonitas. Estas pessoas pobres talvez não tenham nada para comer, talvez não tenham uma casa para viver, mas eles ainda podem ser grandes pessoas quando são espiritualmente ricos. Aqueles que são materialmente pobres podem ser pessoas maravilhosas. Uma noite nós saímos e recolhemos quatro pessoas da rua. E um deles estava em uma condição bem terrível. Eu disse às Irmãs: "Vocês tomem conta dos outros três; eu cuidarei do que parece pior." Assim eu fiz por ela tudo aquilo que meu amor pode fazer. Eu a pus na cama e havia um belo sorriso na sua face. Ela pegou minha mão, e ela só disse uma coisa: "Obrigado". Então ela morreu.  Não pude evitar examinar minha consciência diante dela. Eu perguntei, "O que eu diria se estivesse em seu lugar?" E minha resposta foi muito simples. Eu teria tentado chamar um pouco de atenção para mim. Eu teria dito, "Eu tenho fome, eu estou morrendo, eu estou com frio, eu estou com dor", ou algo assim. Mas ela me deu muito mais - ela me deu o seu amor agradecido. E ela morreu com um sorriso em sua face” 

                Madre Teresa foi entusiasticamente aplaudida durante a sua “oração aos políticos americanos”. Lançou entre eles as sementes da Paz, ainda nos dias atuais o grande desafio da humanidade.

    Coluna Publicada aos domingos
    nos jornais O POTI e GAZETA DO OESTE
    Natal e Mossoró - Rio Grande do Norte



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