Brasília em Dia
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31 de Agosto de 2007
1822 a 2007: Independência em risco
Passaram-se 185 anos da proclamação da independência do Brasil. Estamos em plena “Semana da Pátria”.
Tudo começou no início do século 19, quando Portugal tentou a “recolonização”. Pairavam no ar graves ameaças de perda das conquistas, que a partir de 1808 asseguraram a nossa condição de reino unido a Portugal. O vice-reinado do Rio de Janeiro seria extinto e ocorreria a divisão territorial em províncias autônomas, com os governadores militares nomeados pelas Cortes. A inflexível decisão dos revolucionários do Porto (1820) ameaçava o Brasil retroceder ao século 17. D. Pedro de Alcântara estava decidido a cumprir as ordens que lhe chegavam de Lisboa. José Bonifácio – presidente do Senado da Câmara do Rio de Janeiro -, em janeiro de 1822 sensibilizou-o para resistir e permanecer no Brasil. Ele aceitou e ganhou o título de Defensor Perpétuo do Brasil. O rumo da história nacional foi alterado com o “Fico”. D. Pedro ganhou o apoio das massas. O grito de “Independência ou Morte”, as margens do riacho Ipiranga em São Paulo, em 7 de setembro de 1822, culminou o processo da independência, iniciado com a vinda da família real (1808).
Desapareceram os laços de submissão a Portugal. Começou em 1822 e perdura até hoje o longo e difícil caminho de consolidação da nossa Independência. Os desafios – sobretudo dependência econômica – surgiram logo de saída. Fizemos o primeiro empréstimo externo (1824) a um banco inglês (3 milhões de libras esterlinas). Portugal cobrava – com o apoio da Inglaterra – o pagamento de dívidas da época colonial. Esta seria a condição para reconhecer a independência. Sucederam-se vários outros empréstimos, a maioria para cobrir juros de dívida anterior. O endividamento aumentou com a guerra contra o Paraguai, sempre insuflado pela Inglaterra, que tinha o duplo interesse de estimular o conflito e colocar o “novo país” cada vez mais vinculado a Coroa Inglesa.
Em 2007, nas comemorações dos 185 anos da nossa independência, o Brasil ainda permanece na busca da sua independência econômica, política e social. Hoje, a “independência” nacional está diretamente ligada ao fenômeno irreversível da globalização, que significa ganhos para uns e perdas para outros. Sobreviver no planeta deixou de ser assunto interno e nacional. A convivência universal- até com o surgimento do Estado transnacional - impõe uma visão ampla e moderna para as ações públicas e privadas. Os países em crescimento – como o Brasil - perdem com a desvalorização da matéria prima exportada e o atraso tecnológico. O dilema somente poderá ser vencido com a redução da hegemonia do capital financeiro, que nos últimos quinze anos foi aquecido, ao ponto de superar o crescimento do PIB, dos investimentos e das exportações das nações ricas. A lição é a de que só ganhará na globalização quem investir em capital humano e produtividade.
Atualmente, o Brasil passa por uma aparente bonança econômica. Nos últimos anos, a economia mundial cresceu sem precedentes, excedendo 5% por mais de seis anos seguidos. Infelizmente, não houve ganho social. A miséria, a fome e a exclusão social não recuaram na mesma proporção. O que se constata é o aumento da concentração de renda. A Folha (15.07.07) publicou recentemente: “Levantamentos inéditos da Receita Federal e do The Boston Consulting Group (BCG), uma das consultorias mais importantes do mundo, mostram que o Brasil tem 130 mil milionários. Segundo o BCG, os brasileiros são os mais ricos da América Latina com fortuna conjunta estimada em US$ 573 bilhões - mais da metade do PIB nacional”.
Os 185 anos da Independência são comemorados esta semana, sob o risco da Espada de Dâmocles, que ameaça não apenas a nossa economia, mas todos os países que não alcançaram, ainda, um crescimento estável. O perigo maior vem dos capitais voláteis, que provocam “explosões nas bolsas de valores”, gerando desequilíbrios financeiros e até instabilidade política, como nos exemplos passados da Tailândia, Rússia, México e Argentina. O desafio brasileiro - não só do Governo, mas de todos - será estabilizar a Independência iniciada em 1822, através do desenvolvimento interno de novas tecnologias, aprimoramento da engenharia de produtos e intensificação da comercialização no mercado global. Ninguém poderá iludir-se com a falsa impressão do dólar barato, inflação baixa e as ajudas sociais massificadas.
Da mesma forma que no início do século 19 foram razões políticas que provocaram o 7 de setembro de 1882, também em 2007 a construção do alicerce da Independência futura dependerá de vontade política. E nesse aspecto há grande apreensão. Está praticamente sepultada a mais importante das reformas – a política, partidária e eleitoral. Dela dependem as outras reformas. O corporativismo e interesses menores têm prevalecido. A reforma política caminha para ser fatiada ao sabor dos apetites mesquinhos de quem sobrevive das práticas de corrupção atuais. Se nada de concreto e sério ocorrer nessa área, com certeza a independência do Brasil corre o risco de enfraquecer e debilitar-se, cada vez mais. (Comentários)Coluna semanal
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