Brasília em Dia
-
17 de Agosto de 2007
Fome, água e alimentos
O desafio de erradicação da fome no mundo enfrenta estatísticas impressionantes: um bilhão de pessoas desnutridas; 12 mil crianças morrem de fome todos os dias; um terço das crianças nos países subdesenvolvidos apresenta atraso no crescimento físico e intelectual; cerca de 1.2 bilhões de pessoas não dispõem de água potável; uma pessoa em cada sete passa fome no planeta. A solução depende basicamente de dois fatores: água e alimentos. Praticamente dois terços da água global são consumidos na agricultura. A FAO apresenta índices alarmantes. Esse percentual chegaria a 90% nos países em crescimento, justamente onde estão as terras mais férteis. O enigma é como, diante da escassez da água, sobreviverá a produção de alimentos na agricultura.
A pesca poderá ser uma alternativa viável para a oferta de alimentos. Considera-se o peixe alimentação de primeira linha, em todas as partes do mundo. A OMC recomenda consumo mínimo de 12 kg por habitante ano. A média mundial é de 16 quilos. No Brasil, 7 kg por pessoa ao ano. A FAO estima no ano 2030 a média mundial de consumo de peixes em torno de 22 quilos/habitante/ano. Tal fato aumentaria o déficit nacional para 40 milhões de toneladas.
Nessa conjuntura, o Brasil apresenta-se como um dos países com maiores condições naturais de suprir a demanda interna e exportar, em razão da fartura de recursos hídricos e o potencial para o desenvolvimento da aqüicultura (criação de peixe). São 8.400 quilômetros de costa marítima no Brasil. Clima favorável, mão-de-obra abundante e crescente demanda no mercado interno. Além disso, observam-se algumas tendências naturais na atividade pesqueira nacional: expansão na produção de moluscos, como ostras; ampliação da produção de peixes de água doce – especialmente das tilápias e de algumas espécies nativas.
A nossa costa tropical e certos vales interioranos têm o “habitat” ideal para o cultivo de camarões e peixes em cativeiros, cuja atividade cresce em vários países do terceiro mundo como Formosa, Filipinas, Índia, China, Equador e outros. A produção mundial da aqüicultura já ultrapassa 20 milhões de toneladas/ano, com receita superior a 40 bilhões de dólares.
Alguns exemplos globais estimulam a prioridade que deve ser dada no Brasil a esse setor. A China é o maior produtor do mundo. Lá chegam a ser gerados mais de 15 milhões de empregos. A Tailândia lidera a produção de camarões com faturamento superior a 10 bilhões de dólares ano. O Equador, mesmo enfrentando sérias crises políticas, consegue absorver boa parte de mão de obra não especializada no setor pesqueiro.
Não se pode esconder que há uma preocupação do Governo, no sentido de regularizar e organizar o uso do potencial produtivo dos rios, lagos e mar. As áreas alagadas somam mais de 5.5 milhões de hectares. Os projetos para a criação de parques aqüícolas (lotes de produção em águas públicas) são suficientes para dobrar a produção total de pescados do país, atualmente em um milhão de toneladas, entre pesca e cultivo. Na medida em que os cultivos forem sendo autorizados, a tendência é a consolidação da atividade.
O defeso é um dos instrumentos para a viabilidade do desenvolvimento pesqueiro. No caso da pesca de lagostas, ele foi o responsável pela manutenção e continuidade da pesca até hoje. Se não houvesse defeso, a pescaria de lagostas já teria se exaurido há bastante tempo. Infelizmente, as ações de pesca predatória e a falência do controle comprometeram os aspectos positivos.
A proibição recente da caçoeira (redes usadas por pescadores na extração da lagosta) e do compressor causou protestos pela falta de medidas complementares, que assegurassem a sobrevivência dos pescadores, sobretudo na região nordeste. A medida em si é aceita, até porque foi tomada em 2002, pelo Comitê de Gestão da Lagosta, formado por representantes do governo, pescadores e sociedade civil. Substituíram-se as caçoeiras pelos manzuás, uma espécie de gaiola de palha para onde as lagostas são atraídas por iscas. Apesar da proibição, as redes continuaram sendo utilizadas por algumas embarcações pesqueiras e pequenas comunidades, danificando o meio ambiente.
Com a água escassa e a redução da produção agrícola de alimentos, a única porta que se abre no combate à fome é o incentivo à pesca. O Brasil poderá assumir liderança e contribuir para reduzir o sofrimento da humanidade esfomeada. É só querer e iniciar uma política agressiva nessa área.(Comentários)Coluna semanal
Revista Brasilia em Dia
www.brasiliaemdia.com.br
Notice: Undefined variable: categoria in /home/neylopescom/public_html/noticia.php on line 42
Notice: Trying to get property of non-object in /home/neylopescom/public_html/noticia.php on line 42
Notice: Undefined index: pagina in /home/neylopescom/public_html/noticia.php on line 42
Notice: Undefined variable: totalPaginas in /home/neylopescom/public_html/noticia.php on line 42
Notice: Undefined offset: 1 in /home/neylopescom/public_html/restrito/incs/funcoes.php on line 618