Brasília em Dia
-
21 de Julho de 2007
Sugestão ao MEC
Em 1965 nasceu na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) um programa pioneiro de extensão universitária, denominado CRUTAC (Centro Rural Universitário de Ação Comunitária). A sua finalidade básica era promover o treinamento rural dos estudantes, em períodos de estágios, com o assessoramento de professores e técnicos, visando criar as con-dições necessárias ao estudo e solução de problemas da comunidade, mediante a adequação do exercício profissional às peculiaridades do meio. Ampliou-se para o resto do Brasil, através do decreto-lei 916/69. O modelo chegou a ser implantado em diversos países da América do Sul e África. Em fevereiro de 1977, o MEC simplesmente sepultou a iniciativa.
O CRUTAC foi criado pelo Fundador e Reitor da UFRN, professor Onofre Lopes da Silva, cujo centenário de nascimento está sendo comemorado. Como professor e procurador daquela Universidade – antes de exercer seis mandatos na Câmara dos Deputados – participei intensamente do programa. Fui testemunha ocular dos serviços de cidadania prestados por uma pequena Universidade do nordeste às populações rurais carentes. A Universidade ia aos que não podiam ir à Universidade. Até então, isto não existira no Brasil.
Li recente Edital (nº. 06/2007), do Ministério da Educação, no qual o Departamento de Modernização e Programas de Educação Superior convoca as instituições federais e estaduais a apresenta-rem propostas de projetos de extensão universitária, com ênfase na inclusão social. Percebi a prioridade e sensibilidade do atual Ministro Fernando Haddad à extensão universitária, que somada ao ensino e à pesquisa asseguram o cumprimento das funções pri-mordiais da Universidade moderna.
O CRUTAC e posteriormente o CINCRUTAC (Comissão Incentivadora dos Centros Rurais Universitários de Treinamento e Ação Comunitária) precisam ser analisados e, com certeza, ressuscitados pelo Ministério da Educação. O seu criador, Professor Onofre Lopes, opinou certa vez sobre a exclusão social e as responsabilidades da Universidade brasileira. Disse ele: “o problema não era apenas de saúde. Aquela gente não tinha educação cívica, educação sanitária, orientação para alfabetização, o trabalho não dava rendimento para o sustento da própria casa... Também aquelas cidades do interior cresciam desordenadamente. E se aquelas comunidades passassem a ter uma assistência da Escola de Engenharia haveria crescimento planejado... Então fiquei pensando. É a Universidade toda. Por que todos os estudantes não podem fazer estágios de Medicina, de Farmácia, de Odontologia, de Serviço Social, de Educação, de todas as unidades que fazem a Universidade? Por que não se pode fazer uma equipe de estudantes, convenientemente supervisionados pelo corpo docente para prestação de serviços e para educar o povo? Então, daí nasceu a idéia de transportar a Universidade com os seus conhecimentos para o interior (área rural)”.
O CRUTAC teve crescimento vertiginoso. Passou a ser visitado por autoridades nacionais e internacionais. O reitor Onofre Lopes sempre fez justiça ao então Ministro da Educação, Jarbas Passarinho, qualificando-o como “entusiasta fabuloso da idéia”. O Congresso Nacional promoveu debates. Difundiu-se do Amazonas ao Rio Grande do Sul, sendo adotado em 39 universidades brasileiras, além de outras latino-americanas e africanas.
A UFRN ficou pequena para abrigar o CRUTAC. O Governo Federal criou, em 1969, a Comissão Incentivadora dos Centros Rurais de Treinamento e Ação Comunitária (CINCRUTAC), órgão interministerial (Educação, Interior, Agricultura, Saúde, Trabalho e Previdência Social) com a finalidade de expandi-lo no Brasil. Consolidava-se um novo conceito de extensão universitária fundamentado na compreensão social, de que a Universidade não deveria isolar-se, mas, ao contrário, aproximar-se das massas carentes, sem praticar assistencialismo e difundir “métodos de promoção do homem para que tenha a exata consciência de sua dignidade como pessoa, seus direitos e deveres” (Resolução 57/65-UFRN, que regulamentou o CRUTAC). Tratava-se de treinamento dos alunos, colocando-os em contato direto com a comunidade, além de ações, projetos para a solução de problemas sociais crônicos e serviços multiprofissionais.
Infelizmente, como quase tudo no Brasil, o CRUTAC terminou sepultado pelo próprio MEC, em fevereiro de 1977. Logo após faleceu o seu criador e idealizador, Professor Onofre Lopes da Silva.
Na hora em que o Ministro da Educação demonstra interesse pela extensão universitária seria o momento certo para o reestudo dessa experiência vitoriosa. Até em homenagem ao brasão oficial da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) – criadora do programa –, onde está escrito “Accipt ut det” (Recebe para dar). Esta deve ser a verdadeira missão da Universidade e, certamente, do MEC também. (faça seu comentário )Coluna semanal
Revista Brasilia em Dia
www.brasiliaemdia.com.br
Notice: Undefined variable: categoria in /home/neylopescom/public_html/noticia.php on line 42
Notice: Trying to get property of non-object in /home/neylopescom/public_html/noticia.php on line 42
Notice: Undefined index: pagina in /home/neylopescom/public_html/noticia.php on line 42
Notice: Undefined variable: totalPaginas in /home/neylopescom/public_html/noticia.php on line 42
Notice: Undefined offset: 1 in /home/neylopescom/public_html/restrito/incs/funcoes.php on line 618