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Opinião

  • 03 de Março de 2012

    Qual será o futuro da China?

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    Muitas reflexões podem ser tiradas da história da China. É um país singular. Henry Kissinger, com a experiência de um dos maiores diplomatas do século XX, detalha os duzentos anos de história recente da China, no seu último livro “Sobre a China”. Durante o tempo de Mao Tsé-Tung, tudo o que existia na China era “bem público”. Recentemente, a Assembléia Nacional do Povo aprovou que “a propriedade particular obtida legalmente é inviolável”. A mudança começou com Deng Xiao-Ping, em 1978, quando ele pronunciou a frase: “Enriquecer é glorioso!”. A partir daí, o povo chinês tentou usar a inteligência e a astúcia para conseguir ser proprietário de alguma coisa. O resultado é que hoje, a indústria privada é responsável por quase 50% da produção e de mais de 20% do PIB nacional.

    Não há comparação com outra sociedade no mundo, que tenha atingido tal nível de crescimento. A China se desenvolve com o salário mínimo de 100 dólares, sem ter Diário Oficial e hora extra na relação trabalhista. O operário agradece o emprego e se dedica ao trabalho. Ao invés de valorizar as marcas e patentes, os chineses valorizam a produção em escala e assim desmoronam pouco a pouco as estruturas industriais do Ocidente. Não adianta choramingar, como fazem alguns empresários brasileiros, viciados nas tetas dos governos, que usam o discurso maluco de propor mudanças na política econômica chinesa, como se isso fosse possível. Despreparo e desconhecimento da economia mundial. Será que a China irá desvalorizar o seu yuan para beneficiar as nossas exportações? Compete às empresas nacionais agregarem valor às suas commodities, como resultado de ganhos de produtividade e de inovação. Essa tarefa é do Brasil e não deles.

    No seu livro, Kissinger desmente o mito de que a China seja um fenômeno econômico contemporâneo ao provar que sempre foi a maior potência econômica mundial, salvo nos últimos 150 anos. Os Estados Unidos nem existiam e os chineses já lideravam o mundo global. O livro faz retrospecto histórico e narra histórias pitorescas. A partir de sua base territorial no vale do rio Amarelo, a China até a revolução industrial (século XIX) era muito mais rica do que os Estados europeus. Em 1820 produziu mais de 30% da riqueza mundial, ultrapassando o PIB total da Europa e dos Estados Unidos.

    Para entender a China é fundamental saber que os ensinamentos de Confúcio se transformaram em filosofia oficial do estado chinês e evoluíram para algo semelhante a uma Bíblia e Constituição, combinados numa coisa só. Confúcio (551-479 a.C.) viveu no fim do chamado período da Primavera e Outono (770-476 a.C.). Ele pregava que os impérios foram criados pela força, porém nenhum deles consegue sustentar-se por meio dela, aconselhando sempre transformar a força em dever individual. Os chineses jamais aceitaram qualquer tipo de criação cósmica (um Deus), ao contrário do budismo na Índia; do monoteísmo judeu, cristãos e islâmicos. Todos os valores derivam do confucionismo, que ao invés de oferecer caminho para a vida após a morte, afirma um código de conduta social, com prioridade para a pessoa usufruir em vida, o aprendizado e ganhos obtidos com a educação e a disciplina. Na diplomacia, os chineses desenvolveram doutrina oposta ao Ocidente. Eles partem do princípio de que nem todo problema tem solução e que insistir poderá quebrar a harmonia do universo. Dificilmente arriscam o “tudo ou nada”. Preferem as manobras de anos e anos. Há quem admita a possibilidade de uma “primavera árabe” na China. Na verdade, o país implanta o capitalismo estatal, por mais paradoxal que pareça. Valoriza a riqueza, mas não reconhece as liberdades individuais amplas.

    Para Kissinger, que aproximou USA e China, é difícil antever o futuro das relações dos dois países. Ele dá a entender, que os chineses não sobreviverão economicamente sem os americanos. Seria o caso de indagar, se o mundo está diante do tradicional jogo chinês chamado “wei qi”, cujos ganhadores são os mais estratégicos, ou do jogo de xadrez ocidental, cujo objetivo é a vitória total (xeque-mate)? Afinal, para onde caminha a China? Sobre isto, Kinssiger preferiu silenciar.

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    Ney Lopes – Jornalista; advogado, professor 
    de direito constitucional e ex-deputado federal.

    Publicado aos domingos nos jornais
    DIÁRIO DE NATAL e GAZETA DO OESTE
    Natal e Mossoró - Rio Grande do Norte


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