Brasília em Dia
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27 de Agosto de 2011
Escolha de Sophia
O Peru iniciou o ciclo das quatro eleições marcadas para este ano na América Latina, decisivas para o futuro perfil da região. Elegeu-se presidente Ollanta Humala, que declarou enfaticamente a prioridade de remover a ideologia nas relações internacionais. No Uruguai, o presidente Mujica, um ex-guerrilheiro, tem trilhado as lições de Lula e já alcança bons resultados econômicos, por respeitar contratos e transmitir segurança aos investidores.
A previsão do FMI para a América Latina é o crescimento este ano de 4.7% e “significativo risco de superaquecimento”. O FMI recomenda às autoridades regionais econômicas que se acautelem, em razão da “forte entrada de capitais” e as flutuações nos preços das matérias-primas. O relatório ressalta a “dependência da demanda da economia da China de matérias-primas da região” e as conseqüências de potencial arrefecimento da economia chinesa, que afetaria o crescimento latino-americano.
Neste contexto, a Guatemala irá às urnas no próximo 11 de setembro. O Instituto “Barômetro” em abril passado realizou pesquisa desalentadora para o seu Presidente, Alvaro Colon, que ficou, na Ibero América, em último lugar na aprovação popular. Desponta como favorita na disputa eleitoral Rigoberta Menchú, Prêmio Nobel da Paz de 1992 e a candidata mais a esquerda. No último pleito, ela chegou muito perto de ganhar. Nas últimas décadas, a esquerda tem obtido sucesso nas urnas latino-americanas. Começou no Chile pós Pinochet, seguido de Hugo Chávez em 1998, Brasil, Argentina, Uruguai, Bolívia, Equador, Paraguai, Nicarágua e El Salvador.
Na Argentina, já em campo os candidatos para eleição de 23 de outubro. No último dia 15, a presidente Cristina Kirchner venceu as primárias com folga e confirmou o seu favoritismo diante da oposição. Poderá ganhar já no primeiro turno, de forma mais expressiva do que em 2007 quando obteve 45% dos votos. O centro e a direita terão nomes como Eduardo Duhalde, Ricardo Alfonsín e Hermes Binner. A presidente está sendo favorecida pelo crescimento econômico, pela viuvez - o uso da imagem do marido morto - e a fragmentação da oposição. A tentação chavista ronda a Presidente. Não se sabe se caso eleita fará como Humala no Peru.
A eleição mais emblemática do ponto de vista das posições ideológicas será a da Nicarágua, em 6 de novembro. Além do atual presidente Daniel Ortega, da Frente Sandinista de Liberação Nacional (FSLN), que concorre à reeleição, haverão provavelmente mais quatro candidaturas de oposição. Repete-se o que ocorre na Argentina com a fragmentação das oposições. As pesquisas apontam a vitória de Daniel Ortega, que para ser candidato se beneficiou de uma decisão muito criticada da Corte Suprema, a qual declarou “inaplicável” o artigo 147 da Constituição do país, que proíbe a reeleição presidencial. Se Ortega alcançar 35% dos votos válidos ganhará o pleito, o que significará mais uma vitória de Hugo Chávez com impacto em toda América Central e na disputa venezuelana de 2012.
Os quatro chefes de estado eleitos em 2011 enfrentarão a dura realidade da crise econômica mundial em evolução. Em recente estudo a Cepal adverte “que o aumento dos preços internacionais dos alimentos e dos combustíveis, no contexto de um aumento da demanda interna, tem dado lugar ao surgimento de pressões inflacionárias na América Latina e Caribe. Como conseqüência, observa-se um relativo endurecimento da política monetária em vários países da região, o que tem aumentado a diferença entre as taxas de juros internas e as internacionais”.
A principal observação da Cepal e que deve nortear os governos regionais é a luz “vermelha” acesa diante dos riscos da economia internacional, especialmente a situação nos Estados Unidos, Europa, riscos inflacionários na China e a eventualidade de uma deterioração global, que limite o potencial de crescimento da região.
Na guerra cambial, observa-se a estratégia dos países asiáticos, europeus e Estados Unidos conseguindo aumentar os ganhos com as exportações, através da subvalorizarem de suas moedas. Quando a moeda de um país está subvalorizada, ela torna o produto fabricado internamente mais barato e mais atraente, sendo vendido por menos dólares, que serão trocados por mais moeda interna.
A América Latina sofre com a concorrência desleal, que prejudica as suas exportações de produtos industrializados. Esse é um dilema complexo para os vitoriosos nas urnas em 2011. Será uma verdadeira “escolha de Sofia”.
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