Marca Maxmeio

Opinião

  • 07 de Agosto de 2011

    Quem avisa amigo é!

    20110807_opiniao

     

    Na verdade, o mar não está pra peixe na economia mundial, com reflexos inevitáveis no Brasil. A regra é reduzir despesas e criar alternativas inovadoras, que não forcem sangria aos cofres públicos.

    Os Estados Unidos permanecem com muitas incertezas, após a crise da dívida. Continuam ameaçados de recessão. O euro agoniza. Agrava-se a situação econômico-financeira da Espanha e da Itália, depois do caos de Portugal e da Grécia. Já se comenta o contagio da Alemanha, um dos países que sustentam a moeda européia. A crise espanhola, se consumada, afetará diretamente a América Latina e, particularmente, o Brasil. As preocupações se voltam para os bancos Santander e BBVA, que somente este ano já socorreram as suas matrizes em dificuldades, com cerca de UU$ 28 bilhões de dólares, sendo 75% desse valor (UU$ 21 bilhões) originário do Brasil, segundo o Deutsche Bank e o banco Nomura.

    Na última quinta, as bolsas de todo o mundo “derreteram”, na expressão do ministro Mantega. A queda livre da Bovespa alcançou 5%, com o pregão atingindo momentos piores. O dolar se valorizou em 2%, com a desvalorização do real. Afora as Bolsas, cairam os preços das commodities nos mercados mundiais. O petróleo reduziu UU $ 5.07 num só dia, o ouro 1642.2%, sem incluir os produtos agrícolas também afetados, sobretudo a soja.

    No Brasil, o horizonte recomenda muita cautela. Até final final deste mes o orçamento terá que ser enviado ao Congresso. Tudo muda do dia pra noite. No início da semana, o governo concordou em renuncia fiscal favorável à indústria nacional de R$ 24.5 bilhões até 2012. De uma hora para outra, o real se desvalorizou, facilitando as exportações. A  medida se tornou dadivosa e dificulta, por exemplo, a elevação do mínimo para R$ 621.00, o que resultaria em despesas orçamentárias de cerca de R$ 300 milhões (por conta dos benefícios previdenciários e assistenciais). Nas contas públicas futuras haverá grande impacto com a decisão do STF, que considerou inconstitucional o parcelamento de precatórios. Para pagar esses precatórios à vista em 2012, o governo desembolsará despesa extra de quase R$ 8 bilhões. Por outro lado, várias categorias do serviço público pressionam por aumentos. A máquina pública está definhando, com o pedido de aposentadoria de cerca de 40% dos servidores.

    O perigo maior é o que vem acontecendo quase em silêncio: o aumento de tributos. Nos últimos meses, as alíquotas do IPI das bebidas foram elevadas, bem como o IOF em cartão de crédito, derivativos cambiais, financiamentos habitacionais, crédito ao consumo, e algumas modalidades de entrada de capital. A tendencia de elevação de tributos é claríssima, o que traz consigo o risco do corte de investimentos.

    Enquanto isto, o Brasil insiste na construção do projeto do trem-bala, com um custo inicial de quase  R$ 50 bilhões de dólares. Os estádios de futebol para Copa são construídos a custa de financiamentos a perder de vista do BNDEs, sem falar na pressão por aditivos, que com certeza ocorrerão no futuro. As concessões dos aeroportos insinuam benesses de empréstimos subsidiados e incentivos fiscais, quando deveriam envolver exclusivamente o dinheiro privado.

    A inflação ronda o nosso país. Com ela, o saque ao bolso do trabalhador assalariado, o mais penalizado. A pergunta no ar é como reduzir despesas diante da cascata de dólares exigidos para a Copa de 2014 e as Olímpiadas da 2016? O administrador terá que enxergar a realidade como ela é. Tudo poderá mudar, porém as perspectivas não são boas.

    Ninguém deseja, mas o risco de tsunami é verdadeiro na economia global, com graves consequencias para a América Latina.  Os governantes ou agem com bom senso e firmeza, ou pagarão altíssimo custo político, quando pleitearem a reeleição em 2014. A escassez de dinheiro na economia provoca também escassez de votos. Quem avisa amigo é!

    Leia também "o blog do Ney Lopes": 
    www.blogdoneylopes.com.br

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    • Ney Lopes – Jornalista; advogado, professor
      de direito constitucional e ex-deputado federal.
    Publicado aos domingos nos jornais
    DIÁRIO DE NATAL e GAZETA DO OESTE
    Natal e Mossoró - Rio Grande do Norte

    Na verdade, o mar não está pra peixe na economia mundial, com reflexos inevitáveis no Brasil. A regra é reduzir despesas e criar alternativas inovadoras, que não forcem sangria aos cofres públicos.

    Os Estados Unidos permanecem com muitas incertezas, após a crise da dívida. Continuam ameaçados de recessão. O euro agoniza. Agrava-se a situação econômico-financeira da Espanha e da Itália, depois do caos de Portugal e da Grécia. Já se comenta o contagio da Alemanha, um dos países que sustentam a moeda européia. A crise espanhola, se consumada, afetará diretamente a América Latina e, particularmente, o Brasil. As preocupações se voltam para os bancos Santander e BBVA, que somente este ano já socorreram as suas matrizes em dificuldades, com cerca de UU$ 28 bilhões de dólares, sendo 75% desse valor (UU$ 21 bilhões) originário do Brasil, segundo o Deutsche Bank e o banco Nomura.

    Na última quinta, as bolsas de todo o mundo “derreteram”, na expressão do ministro Mantega. A queda livre da Bovespa alcançou 5%, com o pregão atingindo momentos piores. O dolar se valorizou em 2%, com a desvalorização do real. Afora as Bolsas, cairam os preços das commodities nos mercados mundiais. O petróleo reduziu UU $ 5.07 num só dia, o ouro 1642.2%, sem incluir os produtos agrícolas também afetados, sobretudo a soja.

    No Brasil, o horizonte recomenda muita cautela. Até final final deste mes o orçamento terá que ser enviado ao Congresso. Tudo muda do dia pra noite. No início da semana, o governo concordou em renuncia fiscal favorável à indústria nacional de R$ 24.5 bilhões até 2012. De uma hora para outra, o real se desvalorizou, facilitando as exportações. A  medida se tornou dadivosa e dificulta, por exemplo, a elevação do mínimo para R$ 621.00, o que resultaria em despesas orçamentárias de cerca de R$ 300 milhões (por conta dos benefícios previdenciários e assistenciais). Nas contas públicas futuras haverá grande impacto com a decisão do STF, que considerou inconstitucional o parcelamento de precatórios. Para pagar esses precatórios à vista em 2012, o governo desembolsará despesa extra de quase R$ 8 bilhões. Por outro lado, várias categorias do serviço público pressionam por aumentos. A máquina pública está definhando, com o pedido de aposentadoria de cerca de 40% dos servidores.

    O perigo maior é o que vem acontecendo quase em silêncio: o aumento de tributos. Nos últimos meses, as alíquotas do IPI das bebidas foram elevadas, bem como o IOF em cartão de crédito, derivativos cambiais, financiamentos habitacionais, crédito ao consumo, e algumas modalidades de entrada de capital. A tendencia de elevação de tributos é claríssima, o que traz consigo o risco do corte de investimentos.

    Enquanto isto, o Brasil insiste na construção do projeto do trem-bala, com um custo inicial de quase  R$ 50 bilhões de dólares. Os estádios de futebol para Copa são construídos a custa de financiamentos a perder de vista do BNDEs, sem falar na pressão por aditivos, que com certeza ocorrerão no futuro. As concessões dos aeroportos insinuam benesses de empréstimos subsidiados e incentivos fiscais, quando deveriam envolver exclusivamente o dinheiro privado.

    A inflação ronda o nosso país. Com ela, o saque ao bolso do trabalhador assalariado, o mais penalizado. A pergunta no ar é como reduzir despesas diante da cascata de dólares exigidos para a Copa de 2014 e as Olímpiadas da 2016? O administrador terá que enxergar a realidade como ela é. Tudo poderá mudar, porém as perspectivas não são boas.

    Ninguém deseja, mas o risco de tsunami é verdadeiro na economia global, com graves consequencias para a América Latina.  Os governantes ou agem com bom senso e firmeza, ou pagarão altíssimo custo político, quando pleitearem a reeleição em 2014. A escassez de dinheiro na economia provoca também escassez de votos. Quem avisa amigo é!


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