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Opinião

  • 12 de Junho de 2011

    As fagulhas do episódio Palocci

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    A partir da última terça, o Brasil passou a conhecer o verdadeiro estilo de governar da Presidente Dilma Rousseff. O senador José Sarney opinou que “a saída do ministro Palocci significa o início de um novo modo de governar da Presidente”. Esta é a impressão que fica, após a entrada no governo da senadora Gleise Hoffmann (PT-PR), em cuja biografia percebem-se duas tentativas eleitorais fracassadas para a prefeitura de Curitiba (2008) e o Senado (2006). Elegeu-se senadora em 2010. Casada com o ministro Paulo Bernardo das Comunicações, em segundo matrimonio, tem formação jurídica e de gestão pública. Na época dos movimentos estudantis filiou-se ao PCdoB. Nomeada diretora financeira da Itaipu Binacional vinculou-se ao PT.

    A escolha solitária do substituto de Palocci evidencia uma mudança de comportamento da Presidente. A influência do ex-presidente Lula certamente passará a ser relativa.  Para fugir a pecha de ingrata, ele será “comunicado”, o que é diferente de ser “consultado”. Percebe-se que ocorreu exatamente isto na mudança da Casa Civil. A escolha surpreendeu o vice-presidente Michel Temer e o seu PMDB, até então aliados incondicionais de Palocci. A maior irritação peemedebista foi o cargo ter sido dado a quem dias antes pedira a cabeça de Palocci. Até o PT levou um susto com a escolha, porém “fez de conta” que tinha sido consultado.

    Do ponto de vista interno do governo, as perspectivas são de que a Presidente monte o seu “núcleo duro” a base da Chefia da Casa Civil e do Ministério de Relações institucionais, que funcionam dentro do Palácio. Tudo isto talvez para enfrentar o renhido combate à inflação, que se prenuncia. A nova Ministra se diz comprometida com a gestão. Isto quer dizer, a política não poderá onerar o país. Possivelmente sairá o ministro Luiz Sérgio, chamado de “garçom” por anotar os pedidos e nada resolver. Os seus amigos o defendem, dizendo que ele anota, mas o problema é que não tem cozinheiro. Com o objetivo de surprir as deficiências da “cozinha política”, a Presidente poderá convocar o líder Cândido Vaccarezza, ou a atual ministra da Pesca, sua amiga Ideli Salvatti. Dessa forma, o PT dilmista assumiria de fato e de direito o comando  do governo, sem intermediários.

    Os “aliados” – principalmente o PMDB – dirão que o “buraco é mais embaixo”. Eles admitem que, de agora por diante, serão mais prestigiados, em razão do governo está politicamente enfraquecido, cujo exemplo foi a colheita de assinaturas – quase o número necessário – para instalação da CPI contra Palocci. Entretanto, o temperamento da Presidente não aceitará pressão, seja ela qual for. Os seus correligionários terão que se contentar com a indicação, por exemplo, do deputado Mendes Ribeiro (PMDB-RGS) para a liderança do governo; de um nome para o Ministério da Pesca, se a ministra Ideli Salvatti for para Relações Institucionais e outras acomodações. Não se trata do governo  negar tudo à sua base de sustentação, mas sim a prerrogativa de que caberá ao “núcleo duro” - absolutamente petista dilmista -  definir os critérios de convivência política. Palocci era mais flexível e sempre um aliado potencial do PMDB. Com a senadora Hoffmann, tudo será diferente, até na forma de  abordagem das reivindicações e na exigência de “compromissos”, principalmente aqueles que cheirem a “negócios” . Ela, com 45 anos, possui consistente formação ideológica, pertence à nova geração do PT e tem um mandato de senadora. Palocci não tinha mandato. O vice-presidente Michel Temer é um homem de bem, jurista acatado, porém na política não se pode fugir à máxima de que “vice é vice” e nada mais. Se espernear e conflitar com a titular transforma-se em mero ocupante de cadeira vazia. A lição que fica da crise é que se abriu uma “porta” de independência para a Presidente, através da qual ela apagará as fagulhas de fogo do episódio Palocci, que ameaçam incendiar a sua base política, sobretudo as chamas vindas do seu próprio partido – o PT –, possivelmente o maior beneficiário com a mudança.

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    • Ney Lopes – Jornalista; advogado, professor
      de direito constitucional e ex-deputado federal.
    Publicado aos domingos nos jornais
    DIÁRIO DE NATAL e GAZETA DO OESTE
    Natal e Mossoró - Rio Grande do Norte


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