Brasília em Dia
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20 de Maio de 2011
O mundo balança
O fantasma da inflação ronda não apenas o Brasil. Todos os países ricos e emergentes enfrentam este problema na economia mundial. A disparada de preços ocorre em vários locais do planeta. As maiores preocupações vêm de países asiáticos. Na China atingiu 5,1%, o maior percentual desde julho de 2008. Índia, Paquistão e Vietnã registram índices em torno de dois dígitos. Na América Latina e Caribe, a média aproxima-se de 7% este ano, comparada com 6% em 2010. A maioria das economias sofre com o fenômeno, que reflete a retomada do crescimento e a recente majoração dos preços dos alimentos e combustíveis.
A inflação brasileira medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulou nos 12 meses encerrados em abril uma elevação de 6,51 por cento, superando a margem de tolerância de 2 pontos percentuais fixada na meta inflacionária para 2011 (4.5%). No mundo, 23 países adotam o regime de metas de inflação. O Brasil entrou neste “clube” em 1999 e está ao lado de outras 12 nações, que estouraram a meta inflacionária prevista, ou seja, sete emergentes (Brasil, Coréia do Sul, Tailândia, Polônia, Hungria, China e Rússia) e seis desenvolvidos (Suécia, Canadá, Israel, zona do euro, Reino Unido e Austrália). Mantêm a inflação dentro do limite da meta estabelecida, a República Tcheca, Peru, Colômbia, Chile, México, Filipinas, Japão, Noruega, Estados Unidos e Islândia.
As perspectivas mundiais para 2011 dependerão da superação dos riscos inflacionários na China, India e Brasil, em função da redução de crescimento desses países, o que significa perigo real à recuperação da economia. A previsão inicial de expansão de 7.1% dos “emergentes” em 2011, já recuou para no máximo 6.4%, segundo o FMI. A zona do euro é a mais afetada. Na Europa, o índice de preços ao consumidor superou a meta de 2%. A dívida acumulada da Grécia, Irlanda, Portugal e a “espada de Dâmocles” que ameaça a Itália e Espanha tem provocado um caos no mercado financeiro e no valor da moeda única. A saída possível será a redução abrupta nos gastos públicos, com a demissão de funcionários, cortes de benefícios sociais e despesas governamentais, o que traz grave instabilidade política. O prolongamento da crise européia abalará gravemente a economia mundial – sobretudo o Brasil – e aprofundará divisões dentro do próprio continente, com restrições às migrações.
Um fator preocupante é a formação de “bolhas” com a valorização irreal e artificial de certas commodities agrícolas. O algodão é o exemplo principal. O aumento causado pela especulação atingiu mais de 160% nos últimos 12 meses, causando impacto negativo na indústria têxtil. Com o aumento da demanda por tecidos e o déficit de algodão, o preço subirá ainda mais. O algodão atingiu o valor mais alto desde que começou a ser transacionado no mercado internacional há 140 anos.
Outro gargalo são os alimentos, cujos preços estão quase 40% mais altos do que o ano passado. A FAO advertiu que a produção de alimentos terá que crescer 70% até 2050 para atender as necessidades da população mundial. A organização prevê que haverá 2,3 bilhões de pessoas a mais para alimentar em 2050 e a necessidade do aumento de 60% de investimentos na agricultura primária. O petróleo não fica atrás dos alimentos, contribuindo para a explosão inflacionária no mundo. Com o consumo aumentando numa média anual de 1.5 milhões de barris por dia, a elevação dos preços é ainda estimulada pelo crescimento chinês, a proibição de comercialização do petróleo iraniano, a crise política no Oriente Médio e a corrida por investimentos lucrativos no mercado futuro de petróleo. A Índia, um dos principais emergentes, já atingiu o maior índice de inflação após a Rússia. Dias atrás teve o maior aumento de gasolina desde 2008, o que provocou até distúrbios populares.
Neste contexto, o Brasil trabalha para conter a inflação em 2011 no patamar de 4.5%. O ano passado o índice fechou em 5,9%. O dilema das autoridades monetárias é como administrar o cambio. Uma verdadeira “escolha de Sofia”. Tem prevalecido a tese de que o aumento do dólar gera aumento em real. É importante observar que a cada dia o real adquire mais confiança no mundo global, o que assegura em futuro próximo, um nível elevado de conversibilidade da moeda.
Nota-se que está turbado o “céu de brigadeiro” da economia global, se comparado com a última década. Em verdade, o mundo balança. Espera-se que mesmo balançando, não caia!
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