Marca Maxmeio

Brasília em Dia

  • 09 de Abril de 2011

    Chamas no mundo árabe

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    O incêndio político no mundo árabe começou em dezembro de 2010, quando o tunisiano Mohamed Bouazizi, de 26 anos, envolveu o corpo com solvente e se imolou numa via pública. Ele era ambulante e teve a sua banca de frutas confiscada por agentes públicos do ditador Zine El Abidine Ben Ali, que permaneceu 23 anos no poder. Pela primeira vez na história, um governo ditatorial árabe era derrubado por rebelião popular. A fortuna de Ben Ali e de sua família, depositada no exterior, está calculada em U$S 18 bilhões, quase o valor da dívida externa do país.

    As chamas logo atingiram o Egito. Descobriu-se que a fortuna da família Mubarak está calculada em US$ 70 bilhões. A baixa oferta de empregos e a alta nos preços dos alimentos desencadearam revoltas em países como Argélia, Líbia, Iêmen, Bahrein, Marrocos, Jordânia, entre outros. Fala-se em riscos no Kuwait. Caso o incêndio chegue à Arábia Saudita, nação aliada do Ocidente, as consequências serão catastróficas. A dinastia saudita governa o país desde a sua fundação, em 1930. Nesta hipótese, ocorreria não apenas a derrubada de uma ditadura, mas do sistema monárquico por inteiro, o que seria muito mais grave do que a substituição de um governo. No século XVIII, a revolução inglesa preservou a monarquia para evitar o colapso do país.

    As causas fundamentais da revolta árabe não foram as situações de opressão política. Tudo começou com o desemprego em massa. Antes, a grande alternativa era a saída para a Europa. Atualmente, na Europa inexiste oferta de empregos, além de profunda discriminação contra os imigrantes. Este quadro caótico resultou nas revoluções em curso. Por trás dos conflitos árabes esconde-se uma grande interrogação: qual será o desenlace da rivalidade entre árabes e judeus? Israel sobreviverá incólume diante das atuais insurreições?

    Árabes e judeus são povos “irmãos” em permanente discórdia. O cientista Lawrence H. Schiffman, da Universidade de Nova York, estudou a genética semítica e concluiu que, pelo critério dos cromossomos, as comunidades judaicas se assemelham aos palestinos, sírios e libaneses, sugerindo que descendem de uma população ancestral comum, que habitava o Oriente Médio, há uns quatro mil anos atrás. A denominação Oriente Médio foi dada pelos britânicos no século passado. Compreende a região limítrofe do mediterrâneo e das fronteiras com a Índia. O mundo árabe é formado por 24 países e territórios, com uma população de cerca de 350 milhões de pessoas, incluída a África. A maioria se mobiliza na luta pela causa palestina contra Israel. Outro foco de tensão, que pode resultar em guerra, é o antagonismo entre Estados Unidos e Irã. Alguns desses países árabes são os maiores produtores de petróleo do mundo (Arábia Saudita, Iraque, Kwait, Emirados Árabes). Ao contrário do que muitos pensam, o Irã não é país árabe, apesar da predominância da religião muçulmana.

    A história registra, desde os tempos bíblicos, que judeus e árabes ocupam partes do território do Oriente Médio. Sempre foram comuns as divergências religiosas, agravadas após a criação do islamismo no século VII. Abraão, o pai dos árabes e dos judeus, recebeu de Deus toda a terra onde habitava. Como retardou o nascimento de seus filhos, Sara, a sua esposa, pediu-lhe que Abraão tivesse relações com Agar, uma escrava, nascendo daí o filho Ismael, origem do povo árabe. Anos após, Sara teve um filho com Abraão, chamado Isaac, a origem do povo judeu. Abraão, para os cristãos e judeus, era judeu. Para os árabes, muçulmano. Os judeus viveram no Egito desde os tempos bíblicos.

    Os árabes dominaram as terras habitadas pelos judeus no ano 180 dC. Permaneceram até 1947, quando com o apoio da ONU fundou-se o Estado de Israel. O domínio árabe prolongou-se por 1.800 anos. Depois da criação do Estado de Israel, os árabes e judeus estiveram em estado de guerra. As principais batalhas ocorreram em 1948/1949: a conhecida “Guerra de Suez” (1956), a “Guerra dos Seis Dias” (1967) e “a Guerra do Yom Kippur” (1973).

    A grande dificuldade para a paz “entre os irmãos árabes e judeus” é que os sionistas e os judeus ortodoxos, bem como os muçulmanos xiitas (nacionalistas e fundamentalistas radicais) pensam com base em vetustos códigos religiosos e legais: os judeus com base no Antigo Testamento, seguindo à risca a “Torah”, e os islâmicos com base no “Alcorão”. Os muçulmanos acreditam na “grande batalha”, quando o islamismo dominará todo o universo.

    Como terminará tudo isso? Difícil de prever. A verdade é que as chamas do incêndio continuam a se espalhar nos limites de Israel, um país com oito milhões de habitantes, cercado por mais de 300 milhões de inimigos.  Leia também o "blog Ney Lopes".

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