Opinião

• 03 de Abril de 2011

  Choro por ti Brasil!

  

   

  Como jornalista e cidadão, acompanho a evolução da reforma política, em debate no Congresso Nacional. Já fui mais confiante. Os sinais são de que a reforma se transformará em simples “band-aid”, que não cura, nem elimina a dor. Fala-se apenas no supérfluo. O essencial é esquecido. Mais uma vez, poderá prevalecer a “concepção moderna” da palavra “sobrevivência”, que justifica assumir comportamentos indignos e desonestos para não sucumbir. As “cúpulas partidárias” não desejam perder as “pejadas tetas”, que lhes permite “sobreviver”, à margem da ética política.

  Não canso de dizer, que a nossa democracia correrá sérios riscos, se não for aprovada uma cirúrgica e profunda reforma política, partidária e eleitoral. O conceituado Instituto “latinobarômetro” do Chile divulgou, em final de 2010, pesquisa realizada em 18 países latino-americanos. Alguns resultados no Brasil são preocupantes, tais como: para 66%, as decisões do governo privilegiam uns poucos; para 70%, algumas pessoas e grupos têm tanta influência que os interesses da maioria são ignorados; apenas 24% têm confiança nos Partidos; 34% têm interesse pela política; 44% querem que o Presidente controle os meios de comunicação; 55% acham que quando a situação está difícil se deve passar por cima das leis; 14% não têm ideologia e 21% não sabem responder. A mesma pesquisa é tranqüilizadora ao constatar que  para 75% a empresa privada é indispensável ao desenvolvimento; para 51% as privatizações foram benéficas ao Brasil; 52% dizem que estão satisfeitos com os serviços públicos privatizados.

  Os números mostram claramente, que a nossa democracia, jamais existirá sem partidos sólidos. Na América Latina, 59% afirmam que sem Congresso não há democracia. Em nosso país, o percentual é de apenas 43%, ficando atrás do Equador onde 40% têm a mesma opinião. Somente este dado justificaria a urgente reforma política, a fim de eliminar a atual “judicialização” do nosso processo eleitoral, que transfere ao judiciário o poder de decisão, constitucionalmente pertencente ao povo.

  Em relação aos partidos políticos, 59% dos entrevistados em toda América Latina, afirmaram que “sem partidos políticos não pode existir democracia”. No Brasil, este índice caiu para apenas 44%. A pesquisa apontou um índice de “legitimidade da democracia”, reunindo a percepção dos entrevistados em alta, média e baixa legitimidade. No Brasil, para 32% dos entrevistados a democracia tem baixa legitimidade, enquanto que para 47% tem legitimidade média e para 21% tem alta legitimidade. Quer dizer: apenas 21% dos brasileiros acreditam na legitimidade da democracia.

  A reforma política é mais importante, do que as reformas tributária, trabalhista e da previdência. Ela irá nortear os rumos do Brasil, quanto ao fortalecimento da democracia, dos partidos e da governabilidade. As mudanças terão que  aproximar os partidos do eleitor. Feito isto, se reduzirão os abusos do poder político e econômico, na medida em que o eleitor cobrará soluções e resultados diretamente aos partidos e não aos eleitos. Hoje em dia, o único partido estável é o PG (partido do governo). Formam-se até “latifúndios de siglas”, nos quais a mesma pessoa, através de prepostos, domina vários partidos oficiais para negociar legendas e benesses nas vésperas das eleições. Se o quadro continuar como está, só restará exclamar: “choro por ti Brasil!”.

  • Ney Lopes – Jornalista; advogado, professor
    de direito constitucional e ex-deputado federal.

  Publicado aos domingos nos jornais
  DIÁRIO DE NATAL e GAZETA DO OESTE
  Natal e Mossoró - Rio Grande do Norte
  

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