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Opinião

  • 23 de Outubro de 2011

    O chão centenário do Alecrim

    20111023_opiniao

     

    Hoje, 23 de outubro, data oficial do centenário do bairro do Alecrim em Natal, onde vivi na infância. O meu pai, Josias, veio do Açu e instalou a alfaiataria Globo, na avenida um. Morávamos na mesma rua, número 363, onde residiam as famílias de Sinval Poti, Dr. Vicente Dutra, Dr. Hildebrando Matoso, Paulo Bulhões, Coronel Juvino Lopes, capitão Gurgel, José Fernandes, o casal Wellington e Etelvina, Marcilio e irmãos, Bráulio da movelaria (pai do escritor e jornalista Alex Nascimento), Miguel do Armazém Estrela, Isaú Vilela, Pedro Costa e outros.

    Povoam a memória alguns comerciantes que conheci e admirei no bairro, quando ainda usava calças curtas. Eram eles Álvaro Navarro, Horácio, Celso Dutra, “Seu” Limeira (dono da primeira farmácia de manipulação do bairro), Wober Lopes, “Rubens Massud, “seu” Artur Cortez, Geraldo de Oliveira, “seu” Perigo (loja de miudezas), “seu Bilé” (grande figura humana e amigo do meu pai), “seu Odilon”, “seu Juvenal Faria” (pai de Osmundo Faria – que teve panificadora no Alecrim - e avô do vice-governador Robinson Faria, que menino era levado pelo pai para atender no balcão da padaria), “seu Chiquinho” (dono de “bodega” tão sortida quanto alguns mini-mercados de hoje), “seu” Geraldo Sarmento (pai de Marco Aurélio de Sá, do JH), Araújo Freire (do Bazar Doméstico), Marcílio Furtado (loja de móveis, líder do comércio e deputado estadual), Luís de Barros (proprietário do Cinema São Luiz), dona Dondon (da Casa Azul), Euclides do Vidraceiro do Norte, Leopoldo da Câmara, Dom Bosco (tecidos e variedades), Leonel Leite (casa de ferragens), Casa Sindá, Isaías Macedo (empresa de ônibus), Braulio Luna (marmoraria Penedo) e Casa Gondim (couros). Em frente à Alfaiataria Globo existia frondosa mangueira e um posto de madeira do SAPS (órgão oficial que vendia alimentos). Todas as tardes aguardava a chegada do pão mais barato.

    Os jornalistas Benivaldo Azevedo, Berilo Wanderley e o seu pai Rômulo Wanderley eram moradores do Alecrim. Berilo mantinha coluna sobre cinema na TN, que me orientava na freqüência ao São Pedro e São Luiz, cinemas que funcionavam no bairro. Comecei a trabalhar cedo na alfaiataria do meu pai. Alinhavava as “provas” dos paletós e entregava o tecido das calças já cortadas nas residências das “calceiras” (costureiras de calças de homem) para serem confeccionadas. Nos anos 57 e 58 usei o bonde para ir às aulas. Houve um Dia do estudante – 11 de agosto – em que “Pecado”, emblemático líder estudantil na época, montou a presepada de passar sabão nos trilhos do bonde, que deslizou no início da ladeira e por isso não ocorreu grave acidente.

    Na paisagem sentimental do Alecrim enxergo a matriz de São Pedro, a missa dominical, a Praça Gentil Ferreira, local de comícios e festas populares. Lembro JK em discurso na Praça, ao lado do deputado Theodorico Bezerra. Em 1958, contagiado pelo micróbio da política, acompanhei Aluizio Alves, Tarcísio Maia e Dix Huit, na campanha um “amigo em cada rua”. A principal avenida - Amaro Barreto - no período do carnaval era o “corredor da folia”. Por lá desfilava Severino Galvão, figura memorável do bairro, vereador e eterno “Rei Momo” de Natal.

    Presenciei fenômeno semelhante à revolução industrial do século XIX, quando os teares mecânicos substituíram a mão de obra humana. A Alfaiataria Globo com excelente clientela teve filial no Grande Ponto, em frente à “loja Seta” de Nevaldo Rocha. No início da década de 60 surgiu a roupa de fábrica. Foi a derrocada da empresa, que empregava mais de 20 operários. O meu pai só cortava os tecidos. Alguns amigos aconselharam-lhe a montagem de uma indústria de roupa pré fabricada.   Para instalar a fábrica, ele teria que recorrer a banco e a sócio. Humilde e leal com os amigos temia não poder pagar os compromissos em dia e sofrer ingratidões de sócios. A Alfaiataria Globo fechou, por falta de clientes.

    Guardo grata recordação da feira do Alecrim. Teve razão o cordelista Elinaldo Medeiros, quando recitou: “Amigo vou lhe dizer, ouvinte vou te contar. Se arrume pois sábado vamos juntos passear, e na feira do Alecrim maravilhas vou te mostrar". Já era estudante de direito e lembro o pioneirismo dos advogados José Augusto Delgado e Diógenes da Cunha Lima, que recém formados instalaram escritório no Alecrim. O centenário do bairro embala recordações dos momentos felizes que lá vivi. Todos beijam o chão das suas origens. Hoje, eu beijo o chão sentimental do Alecrim!

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    Ney Lopes – Jornalista; advogado, professor
    de direito constitucional e ex-deputado federal.

    Publicado aos domingos nos jornais
    DIÁRIO DE NATAL e GAZETA DO OESTE
    Natal e Mossoró - Rio Grande do Norte


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